JANUS.NET, e-journal of International Relations
ISSN: 1647-7251
Vol. 6, n.º 2 (Novembro 2015-Abril 2016), pp. 80-84
Recensão Crítica
Matheus Gonzaga Teles
Assim, ela configurava-se em muitas políticas internacionais como um bem universal e
também assumia outras acepções, tais como: “todos os homens são criados iguais”, “a
paz é indivisível’?” (Carr, 2001:18), a liberalização do comércio, ideias de pronto
desmascaradas pelos realistas que as classificavam em simples interesses de
particulares ou no caso da liberalização do comércio, como a afirmação e a soberania
plena da Grã-Bretanha através de seu pujante comércio.
Os realistas descreveram e identificaram estes supostos interesses universais através
da suposta doutrina da harmonia de interesses. A escola do laissez-faire de Adam
Smith foi a principal responsável pela popularização da doutrina da harmonia de
interesses, em outras palavras, foi a propulsora dos disfarçados ideais liberais da
Sociedade Vitoriana. Quanto ao desmascaramento de doutrinas, este também tem
outra função, a de evidenciar que em política o poder é sempre um elemento essencial.
Importante ressaltar que mesmo Carr sendo um realista convicto, ele estava
plenamente seguro, como todo e qualquer cientista político consciente dos seus
estudos científicos, que o realismo apresenta falhas. Uma delas relaciona-se
diretamente à impossibilidade de o realista em ser consistente e completo, esta mesma
impossibilidade configura-se como uma das mais corretas e curiosas lições da ciência
política. O realismo consistente exclui quatro coisas, as quais são fatores essenciais de
todo pensamento político eficaz: um objeto finito, um apelo emocional, um direito de
julgamento moral e um campo de ação. Segundo Carr, o realismo puro não atrairia
eleitores ou seguidores fiéis, suas perspectivas materiais são intensamente duras para
aqueles que buscam uma promessa espiritual, algo quase mecânico, e é evidente que a
humanidade como um todo “rejeita este teste racional como uma base universalmente
válida de todo julgamento político” (Carr, 2001:120). Antes de qualquer coisa, o
realismo consistente falha porque deixa de oferecer campo para a ação destinada a
objetivos e significados. O que de mais válido o autor esclarece na sua crítica ao
realismo, é que não há uma situação plenamente estática. Pois, conforme explica, há
sempre algo que o homem pode pensar e fazer, ao mesmo tempo em que esclarece
que tanto este pensamento quanto esta ação, não são robotizados e muitos menos
desprovidos de sentido. Dessa forma, ele retoma o ponto no qual deve haver sempre
um equilíbrio constante entre utopia e realidade, pois o realismo puro não oferta nada
mais do que a luta crua do poder pelo poder, o que inviabiliza qualquer manifestação
ou tipo de sociedade internacional. Para concluir esta crítica, ele rememora que toda
situação política deve unir, de forma mútua, elementos incompatíveis de utopia e
realidade, de moral e poder.
É interessante ressaltar que Carr via os bastidores da guerra não somente pela
exclusividade do poder militar (um fato essencialmente realista), mas através de
muitos outros vieses. Por exemplo, durante sua época, haviam muitas disputas por
tratados (territoriais ou não), expansão econômica ou de influência monetária. Desse
modo, as intervenções e discussões em muitos países eram mais do que a simples
exposição de poder, configuravam-se de alguma forma, como antes uma exigência ou
necessidade de compensação moral. Como caso de compensação moral, tem-se a
Alemanha no contexto do Entre-Guerras. Muitos conflitos tinham uma natureza
puramente ideológica. Neste caso, tem-se as disputas acirradas entre os regimes
nazifascistas e os de cunho democrático, este último, ao tempo das guerras, encontrara
poucos adeptos. A fim de estimular outros participantes, esses regimes criaram um
amplo conjunto estrutural de propaganda cujo expoente mais influente fôra o de Hitler.