OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
Vol. 11, Nº. 1 (Maio-Outubro 2020), pp. 82-104
A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO LATINO-AMERICANO
NA INTERNACIONALIZAÇÃO DAS PMEs PORTUGUESAS
André Brás-dos-Santos
Bras_dos_santos.a@hotmail.com
Doutorando em História pela Universidade Autónoma de Lisboa (UAL, Portugal), Mestre em
Desenvolvimento e Cooperação Internacional e Licenciado em Gestão. Colaborador do Centro de
Investigação em Ciências Históricas (CICH) e do Centro de Estudos de História Empresarial
(CEHE) da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL). Tem tido uma ligação às PMEs portuguesas e
à internacionalização do tecido empresarial português por via profissional e da investigação
universitária. Geriu um projeto ligado à “Rede PME Inovação” da COTEC Portugal, esteve
presente em várias missões empresariais através da Associação de Jovens Empresários Portugal-
China, foi consultor do sector agroindustrial.
Joaquim Ramos Silva
jrsilva@iseg.ulisboa.pt
Professor Catedrático, Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade de Lisboa
(Portugal). Doutor em “Analyse et Politique Économiques” pela École des Hautes Études en
Sciences Sociales, Paris. Membro do SOCIUS/CSG Ciências Sociais e Gestão, um Centro de
Investigação FCT. A sua pesquisa tem focado vários tópicos da economia internacional e realizou
estudos sobre as economias global, europeia, portuguesa e brasileira com ênfase no processo de
internacionalização das empresas e no desenvolvimento e caraterização das relações económicas
entre Portugal e o Brasil. Autor de numerosas publicações, onde se destacam capítulos de livros
e artigos em revistas com avaliação de pares, sendo de referir, entre outras, as publicadas em
Tourism Management, Business Process Management Journal, Journal of Business Economics and
Management, Journal of Enterprise Information Management, and WMU Journal of Maritime
Affairs.
Resumo
À luz da transformação sofrida na última década pela economia portuguesa, onde a
internacionalização das empresas portuguesas através das exportações teve um crescimento
considerável, reduzindo a importância da procura interna como a principal variável na
contribuição para o PIB, este trabalho aborda o papel das PMEs nesta transformação
económica, analisando o caso da sua internacionalização para o espaço latino-americano. O
estudo baseia-se numa análise empírica dos dados resultantes de um inquérito realizado em
2014, período em que se começou a tornar clara a evolução referida, tendo sido validadas as
respostas de 50 PMEs portuguesas internacionalizadas para a América Latina. Por fim, e com
foco nesta investigação, o processo foi correlacionado com as principais teorias de
internacionalização, abrindo-se caminho para estudos mais aprofundados e
metodologicamente fundamentados sobre esta relação com potencial, mas ainda pouco
analisada no âmbito da economia portuguesa.
Palavras chave
PMEs, América Latina, Internacionalização portuguesa, Exportações, IDE
Como citar este artigo
Brás-dos-Santos, André; Silva, Joaquim Ramos (2020). "A importância do espaço latino-
americano na internacionaloização das PMEs portuguesas". JANUS.NET e-journal of
International Relations, Vol. 11, N.º 1, Maio-Outubro 2020. Consultado [em linha] em data
da última consulta, https://doi.org/10.26619/1647-7251.11.1.6
Artigo recebido em 7 de Agosto 2019 e aceite para publicação a 10 de Março de 2020
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Vol. 11, Nº. 1 (Maio-Outubro 2020), pp. 82-104
A importância do espaço latino-americano na internacionalização das PMEs portuguesas
André Brás-dos-Santos; Joaquim Ramos Silva
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A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO LATINO-AMERICANO
NA INTERNACIONALIZAÇÃO DAS PMEs PORTUGUESAS
André Brás-dos-Santos
Joaquim Ramos Silva
1. Introdução
A última década apresentou um conjunto de profundas alterações na economia
portuguesa, sobretudo considerando os dois marcos mais negativos da recente história
económica portuguesa: a crise económica mundial desencadeada em 2008 e o posterior
pedido de resgate ao FMI em 2011. Deve ser assinalado que o produto interno bruto
português se apresentou recessivo no período de 20102015 com um valor próximo de
-1%
1
. Com efeito, o crescimento económico do país encontrava-se assim em contraciclo
relativamente à recuperação verificada na maioria dos países europeus, os quais
apresentaram uma taxa média de crescimento, modesta mas efetiva, de 0,6% no mesmo
período. Todavia, a partir de 2014, o PIB português retomou gradualmente o
crescimento, com destaque para os anos 20162018 (respetivamente, 1,9%; 2,8%;
2,2%), chegando mesmo a superar, depois de um longo período de não convergência, a
taxa média de crescimento do PIB da União Europeia
2
.
Ainda que as mudanças na economia portuguesa não se tivessem confinado ao setor
externo, o processo da última década foi acompanhado por importantes alterações a este
nível. Assim, a balança corrente do país registou uma modificação fundamental no seu
desempenho, sendo que até ao final da primeira década do séc. XXI, se apresentava
claramente deficitária (atingindo mesmo um défice de 10,2% do PIB em 2010),
evidenciando um modelo económico assente na expansão da procura interna à base de
importações. Ora, a partir de 2013, a economia portuguesa infletiu esta trajetória
deficitária e exibiu um excedente na balança corrente (que representou 1,6% do PIB em
2013)
3
, sugerindo uma viragem para um modelo de crescimento apoiado numa
internacionalização do tecido empresarial. De 2013 a 2017, a referida balança registou 5
anos consecutivos com superavit, respetivamente, em percentagem do PIB, de 1,6%;
0,1%; 0,1%; 0,6%; 0,5%
4
, valores numéricos pouco significativos, mas assinaláveis do
ponto de vista da tendência histórica. É certo em 2013-14, o excedente da conta corrente
pode ainda ter resultado da quebra nas importações provocada pela crise e as medidas
1
Fonte: UNCTAD database 2018 (Gross domestic product: Total and per capita, growth rates, annual, 1970-
2016).
2
Fonte: Pordata 2019.
3
Fonte: UNCTAD database 2018 (Balance of payments, Current account balance, annual, 1980-2016).
4
Fonte: Pordata 2019.
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que lhe estiveram associadas, mas a sua persistência ao longo de um período mais vasto
e conjunturas económicas diversas pode criar condições para mudanças mais estruturais.
Importa sublinhar que, à luz da experiência das últimas décadas, e no sentido de uma
aproximação ao modelo existente em economias comunitárias com dimensão
comparável, a modificação verificada ao nível da balança corrente (que, aliás, se podia
ilustrar a outros níveis das contas externas como a balança de bens e serviços, que
melhorou substancialmente o seu saldo, ou da balança financeira; Silva, 2019: 72-3) foi
uma das principais transformações da economia portuguesa no período em análise,
embora só a prática futura nos possa dizer se se trata de uma viragem estratégica, que
reduza os tradicionais constrangimentos externos. Por outro lado, este processo levou a
um aumento da internacionalização por parte do tecido empresarial induzido por fatores
conjunturais como a falta de estímulos internos, traduzida em especial pela forte quebra
da procura doméstica nos anos 2011-2013, correspondente a -5,5%, -7,3%, -2,5%
,
respetivamente em termos de variação homóloga (quadro 1) e a falta de crédito que
afetou de forma latente a indústria portuguesa, com destaque para as suas Pequenas e
Médias Empresas (PMEs)
5
. A este propósito foi salientado como as estimativas relativas
à margem extensiva e intensiva sugerem que uma fração significativa das PMEs
portuguesas foi afetada por restrições de financiamento. Os resultados sugerem ainda
que as empresas mais pequenas e mais jovens foram as mais afetadas (Farinha e Félix,
2014: 16).
Quadro 1 Indicadores da economia portuguesa 2010-2018: variação anual da procura interna e
das exportações
Fonte: Boletim Económico de primavera do Banco de Portugal, anos 2010-2018 e Pordata,
tratado pelos próprios autores.
Tendo em conta os objetivos deste artigo, partindo do que foi anteriormente assinalado,
importa ir mais além no estudo da internacionalização da economia portuguesa, focando
as PMEs, visto que estas são um seu pilar fundamental (quadro 2). Sem querermos
menosprezar o papel e o potencial das grandes empresas nem a diversidade dentro das
PMEs, importa realçar que a internacionalização tem um grande impacto no desempenho
económico destas empresas, nomeadamente na introdução de novos produtos e serviços
nos setores em que se inserem, bem assim como as PME internacionalizadas têm uma
maior propensão para internalizar processos mais ativos de inovação, relativamente às
que só atuam no mercado doméstico (European Commission, 2010).
5
Consideramos PMEs a partir da definição europeia inscrita na recomendação da Comissão 2003/361, a qual
integra neste conjunto as empresas que têm menos de 250 trabalhadores, um volume de negócios inferior
a 50 milhões de euros, um balanço total inferior a 43 milhões de euros; para um panorama mais detalhado
sobre a importância das PMEs em Portugal, ver Silva e Simões, 2012: 824.
Anos 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
PIB (%) 1,9 -1,3 -4 -1,6 0,9 1,8 1,9 2,8 2,1
Contribuição da procura interna no PIB 0,4 -2,9 -7,6 -2,5 0,3 1,1 0,9 1,3 1,3
Contribuição das exportações no PIB 1,5 1,7 3,6 0,9 0,6 0,6 0,9 1,5 0,8
Procura interna variação anual (%) 1,9 -5,5 -7,3 -2,5 2,2 2,7 2 3 2,8
Exportações (peso no PIB em %) 30,1 35 38,2 40,3 40,9 41,2 40,7 43,3 (prov.) 44,3 (prov.)
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Quadro 2 Estrutura das PMEs e das Grandes Empresas no tecido empresarial não financeiro
português
Fonte: INE - Estatísticas das empresas 2016, e tratado pelos próprios autores.
Este trabalho visa assim aprofundar as investigações que têm vindo a ser efetuadas sobre
a internacionalização das empresas portuguesas. Em particular, analisamos aqui a sua
orientação para os países latino-americanos (com foco no caso dos países ibero-
americanos),
6
por se tratar de um espaço próximo em termos linguísticos e da partilha
histórica com Portugal, e por se ter verificado um incremento do potencial económico
desta região desde o começo do século. Por estes fatores, e embora esta região do mundo
esteja longe de ser homogénea (gráfico 1), os mercados latino-americanos são
importantes para as empresas portuguesas, em especial as PMEs, e mesmo em geral
para a economia portuguesa em busca de uma maior diversificação das suas relações
externas.
Gráfico 1- Países Latino-americanos: Tendências de crescimento, 2009-2017 (Taxa de
variação homóloga do PIB trimestral, entre o 1º trimestre de 2009 e o 1º trimestre de 2017)
Fonte: CEPAL Panorama Económico y Social de la Comunidad de Estados Latinoamericanos y
Caribeños, 2017.
Procuramos assim trazer um novo ângulo para a investigação sobre internacionalização
das PMEs portuguesas, sabendo que existe uma escassez de estudos sobre a questão da
análise das relações económicas externas de Portugal com o espaço Latino-Americano
(Silva, 2008), sobretudo se excluirmos o Brasil, bem como os seus resultados são ainda
pouco divulgados. Para a construção e validação deste estudo, partimos de um conjunto
de questões: Quais as principais dificuldades e exigências que as empresas depararam
6
A questão será detalhada adiante, na secção 3. Tendo em consideração que os problemas atinentes às
relações económicas entre Portugal e Espanha têm um contexto muito diferente comparativamente ao dos
países congéneres americanos, a Espanha não será assim considerada para efeitos do tema central deste
trabalho, ao que iremos abordar o seu caso, na conjuntura do processo de integração ibérica na
Comunidade Europeia, e dentro dos posteriores passos que foram dados com vista a uma integração
Iberoamericana, na medida em que estes processos (integração económica) são relevantes no âmbito das
relações entre Portugal e os países latino-americanos.
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ao entrar nestes mercados? Qual o processo internacionalização que seguiram? Que tipos
de apoios tiveram e como os avaliam? Ao nível da metodologia, este nosso trabalho
baseia-se na análise de séries estatísticas, mas sobretudo tem por base um inquérito
direto realizado em 2014 a um conjunto significativo de PMEs portuguesas que se
internacionalizaram para este espaço, reforçando-se assim através uma base empírica
de relevo o estudo do processo de transição para uma maior internacionalização da
economia portuguesa.
Tendo em conta a caraterização da economia portuguesa até meados dos anos 2010 que
acabámos de fazer, particularmente ao nível das suas relações externas, e os objetivos
desta investigação, relacionados com a internacionalização das empresas portuguesas,
em particular das PMEs para a América Latina, o artigo prossegue através de rias
secções. Na secção 2, apresentamos um breve enquadramento teórico, expondo as
principais teorias relativas ao comércio internacional e o investimento direto estrangeiro
(IDE), com pertinência para o caso estudado. Na secção 3, abordamos a questão do
Espaço Ibero-Americano, considerando o conjunto destas nações, e os contextos de
integração em que estão envolvidas, em particular o da União Europeia para Portugal e
Espanha, um vetor importante, pois regula uma boa parte das relações em estudo. A
secção 4 é essencial no âmbito deste artigo, visto que apresenta o inquérito realizado às
PMEs portuguesas na sua internacionalização para a América Latina, refere a metodologia
que foi seguida, sublinha os resultados que foram alcançados, comentando-os e
extraindo um primeiro conjunto de conclusões sobre o processo estudado. Finalmente, a
secção 5, sintetiza as conclusões fundamentais e enumera algumas direções para o
prosseguimento da pesquisa.
2. Enquadramento teórico
Considerando a importância que os processos de internacionalização assumiram nas
últimas décadas para a generalidade das economias, impõe-se uma apresentação das
teorias que os explicam, em particular no que diz respeito aos seus fluxos mais
significativos e de maior impacto: comércio externo e investimento direto estrangeiro. É
o que fazemos, seguidamente, de uma forma abreviada e focando o essencial.
Basicamente, de acordo com as principais teorias sobre comércio, a internacionalização
das economias passa por um processo que leva à sua especialização em determinados
bens ou produtos, baseada em vantagens que o país dispõe, criando condições para a
troca entre parceiros, através de uma maior eficiência que se traduz num aumento do
output (com os mesmos recursos) a ser partilhado. Essa abordagem foi central nos
autores clássicos da ciência económica, nomeadamente Adam Smith na sua obra Riqueza
das Nações (1776), cuja lente utilizava o que viria a ser designado como Teoria das
Vantagens Absolutas. Segundo Smith, os países deviam especializar-se nas produções
que tivessem menor custo (medido pelo custo do trabalho, o único fator de produção
considerado pelos autores clássicos). Todavia, de acordo com esta teoria, ao
considerarmos dois países, se um tivesse menores custos em todas as produções
relevantes, não teria o menor interesse em realizar comércio com o outro e não haveria
especialização internacional. Esta limitação vai ser ultrapassada por David Ricardo na sua
obra de referência Princípios de Económica Política e Tributação (1817), o qual através
da Teoria das Vantagens Comparativas, reformula a questão noutros termos,
justificando-se o comércio mesmo para o caso em que um dos países dispusesse de todas
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as vantagens absolutas de custo na produção de bens. Os países deviam antes
especializar nas produções que tivessem menor custo relativo (e não absoluto),
concentrando-se no que faziam de modo mais eficiente e abrindo um espaço mais vasto
para o comércio internacional baseado na especialização com benefícios mútuos para as
partes envolvidas. Mais tarde, John Stuart Mill completou a contribuição dos autores
clássicos, chamando a atenção para a Lei da Procura Recíproca, i.e., a relação de troca
está dependente da força recíproca das procuras de cada país em cada produto.
Embora não seja objetivo deste artigo analisar a questão em profundidade,
naturalmente, as posições dos autores clássicos foram submetidas a muitas críticas ao
longo dos últimos dois séculos; por exemplo, especializar-se num ou noutro tipo de bens
pode ter consequências completamente diferentes no longo prazo (a tulo ilustrativo,
veja-se que certos produtos se situam numa lógica de rendimentos crescentes enquanto
outros na de rendimentos decrescentes, isto é, podendo a prazo originar resultados
completamente diferentes, como foi sublinhado por muitos autores; e.g. Reinert, 2007).
Seja como for, as teorias clássicas permaneceram como um grande referencial para a
internacionalização, quer em termos analíticos quer de política económica, ainda que
muitos dos seus pressupostos iniciais também tenham sido flexibilizados e/ou alterados.
Na via aberta pelos clássicos, um dos principais desenvolvimentos foi o surgimento da
teoria neoclássica do comércio internacional durante a primeira metade do séc. XX, bem
exemplificada pelo Teorema de Hecksher-Ohlin, que teve depois várias extensões. Estes
autores abandonaram uma das hipóteses básicas dos clássicos, considerando não apenas
um fator de produção, mas dois: o capital e o trabalho, explicando a especialização
internacional pela dotação de cada país nestes fatores. No caso de uma maior abundância
de um fator (por exemplo o trabalho) em detrimento do outro, devia o país especializar-
se nos bens intensivos nesse fator, na medida em que, dispondo de uma vantagem de
custo determinada pela sua abundância, era competitivo (Santos, 2014).
Evidentemente, não é nossa intenção apresentarmos aqui em pormenor o
desenvolvimento destas teorias e toda a problemática que criaram (que dominam a maior
parte dos manuais de economia internacional), mas mostrar como as teorias de
internacionalização das economias e das empresas seguem determinadas regras e
princípios, fundamentais para a sua boa compreensão. O mesmo é também válido para
o caso do investimento direto estrangeiro, que ganhou muita relevo nas últimas décadas.
As teorias sobre os movimentos de capital, incluindo o IDE, tiveram um desenvolvimento
mais tardio, pois os autores clássicos postularam a imobilidade internacional deste fator.
Esta premissa foi durante muito tempo aceite, ainda que tal não correspondesse
totalmente aos factos, mesmo em épocas mais recuadas. Assim, será a partir dos
anos 60 e 70 do século passado, que as teorias sobre os movimentos internacionais de
capitais emergiram de uma forma clara e autónoma e se mostraram aderentes aos fluxos
efetivamente registados (que são aliás muito diversos na sua natureza desde os
financeiros aos empréstimos e ao investimento direto). No âmbito da nossa investigação,
e dada a sua importância para os processos de internacionalização de empresas,
focaremos duas teorias sobre IDE: o Paradigma OLI (ou Eclético) formulado por John
Dunning e o contributo da Escola Nórdica de Negócios.
O Paradigma OLI é um modelo desenvolvido por John Dunning durante a cada de 1970,
tendo sido objeto de uma constante reflexão por parte do autor entre os anos 70 e o
início do séc. XXI (Dunning, 2000, 2001), o que conduziu a importantes ajustamentos e
clarificações. O termo Eclético advém do facto deste Paradigma se basear de forma
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combinada nas três principais áreas em que se pode perspetivar o IDE: as vantagens de
propriedade (Ownership Advantages - O) que existem nas empresas, ou que podem
vir a ser potenciadas na sua expansão internacional; as vantagens de localização
(Localization Advantages - L) que os países ou mercados internacionais podem oferecer
relativamente aos ativos que se deslocam (por exemplo, vantagens decorrentes de
recursos humanos ou naturais que dispõem); e as vantagens de internalização
(Internalization Advantages - I), que correspondem a uma tendência das empresas que
detém vantagens específicas de propriedade com a possibilidade de combinar os ativos
que possuem em diferentes mercados externos, sem passar diretamente pelo mercado.
Apesar do seu ecletismo, na ótica do autor, este paradigma apresenta algumas
limitações, em primeiro lugar o seu foco é destinado às empresas multinacionais, e em
segundo lugar porque o paradigma está limitado à interdependência das suas variáveis
OLI (Santos, 2014).
Neste sentido existe outra abordagem teórica relevante para o nosso estudo, em especial
no que concerne à internacionalização das PMEs. A Escola Nórdica de Negócios ou Escola
de Uppsala que procurou modelar o processo de internacionalização das empresas suecas
na década de 1970, concluindo que se baseia mais numa sequência gradual (Johanson e
Vahlne, 1977, 1990; Johanson e Wiedersheim-Paul, 1975). Assim, a estratégia de
internacionalização das empresas pode ter mais ou menos fases, inclusive podem-se
verificar saltos” da sua sequência ao longo do processo de internacionalização (Silva,
2002a: 61), reconhecendo no entanto, que as principais fases são: exportação, agentes
de exportação, subsidiária de vendas, e filial de produção (Johanson e Vahlne 1990;
Santos, 2014). De acordo com este modelo, na fase inicial do processo de
internacionalização, nomeadamente na exportação, as empresas tendem a efetuar
negócios com países ou mercados com uma menor “distância psíquica
7
. Nas fases mais
avançadas do processo de internacionalização, em especial na instalação de uma filial de
produção, a distância psíquica já não é um fator tão determinante na estratégia de IDE
das empresas, mas sim, fatores como a dimensão do mercado, ou caraterísticas
específicas desses mesmos mercados, no que concerne à atratividade percetível para o
IDE, podendo essa atratividade estar associada a fatores como as tarifas alfandegárias,
a inserção em grandes espaços económicos, os custos de transporte, ou o poder de
compra a nível interno (Johanson e Vahlne, 1977, 1990; Johanson e Wiedersheim-Paul,
1975).
Relativamente às PME, e contrapondo com a crítica que foi anteriormente abordada no
Paradigma OLI (elaborado a pensar em grandes empresas, com vastos recursos, por
exemplo, com vantagens de propriedade que permitem importantes ganhos em
concorrência imperfeita, ou com vantagens de internalização através de muitas filiais
espalhadas pelo mundo), o modelo da Escola Nórdica de Negócios tem por base uma
teoria que sustenta um modelo explicativo, que tem em conta as caraterísticas de
dimensão e de recursos das PME, em especial no processo inicial da sua
internacionalização (Johanson e Vahlne, 1990).
7
O conceito de distância psíquica foi desenvolvido por Vahlne e Wiedersheim-Paul em 1973, numa obra na
sua língua original e depois desenvolvido em outros trabalhos como por exemplo em Hállen e Wiedersheim-
Paul (1979). Trata-se do somatório de todos os fatores (língua, a cultura, habilitações, sistemas políticos,
história, cultura empresarial) que possam causar entropia na comunicação, circulação e análise da
informação entre países, mercados e empresas, na medida em que se verificam diferenças mais profundas
entre o país de origem e o país recetor do IDE.
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Mais recentemente Johanson e Vahlne (2009) refletindo sobre o modelo da Escola de
Uppsala, destacaram o papel das Redes (Networks) no processo de internacionalização,
onde as empresas que se encontram dentro da Network beneficiam de um contexto de
comunicação e interligação privilegiado, originando relacionamentos em que se partilham
aprendizagens e conhecimento, oportunidades de negócio, e sinergias no processo de
internacionalização (Raposo et al., 2004). No seu conjunto, estes investigadores
remetem-nos ainda para mais uma lacuna a suprir do modelo inicial:
“Quando construímos o nosso modelo original, não estávamos
conscientes da importância do compromisso mútuo para a
internacionalização. Agora, nossa visão é que a internacionalização
bem-sucedida requer um compromisso recíproco entre a empresa e
suas contrapartes (Johanson & Vahlne, 1990; Vahlne & Johanson,
2002)” (Johanson e Vahlne, 2009:1414).
A concluir esta secção, deve-se ainda sublinhar que trabalhos empíricos recentes,
contribuíram para esclarecer importantes questões teóricas relacionadas com a
substância deste trabalho. Por exemplo, os modelos gravitacionais que à partida visavam
explicar o comércio e o investimento internacionais por fatores de natureza física como
a distância geográfica ou então pelo valor da produção, medido pela dimensão do PIB
(Cechella et al., 2009: Cechella et al., 2012), evidenciaram limitações levando a concluir
que este tipo de influências não é hoje tão importante como era no passado ou se julgava
que fosse (Eichengreen e Irwin, 1998), enquanto que fatores como a língua e
proximidades históricas e institucionais têm vindo a ganhar relevância tendo um papel
que não deve de forma alguma ser subestimado (Silva, 2005; Costa, 2005, Cechella et
al., 2014). Para além de outros aspetos, estas considerações implicam que na explicação
dos fluxos internacionais se deve levar também em conta a contributo de outras áreas
científicas, como a história, a ciência política e as relações internacionais que estudam
factos e dimensões que influenciam muitos laços e parcerias que se estabelecem à escala
global.
3. O Mercado Ibero-Americano
3.1. A Natureza Socioeconómica
O Espaço Ibero-Americano é um importante espaço cultural e económico que junta vinte
e dois Estados, dezanove no continente americano, sendo eles: Argentina, Bolívia, Brasil,
Colômbia, Costa Rica, Cuba, Chile, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México,
Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai, e Venezuela, mais
os três Estados que compõem a Península Ibérica: Andorra, Espanha, e Portugal, com
duas línguas de origem latina - o português e o castelhano
8
. A população deste espaço
corresponde a cerca de 9% da população mundial, prevendo-se um aumento de cerca
de 90% no período de 1990 a 2030, de 477 milhões de habitantes para 748 milhões de
habitantes. Sendo que a mesma se encontra subdividida num rácio de 33,33% da
8
Conforme consta no site da Secretaria-Geral Ibero-Americana, https://mandatos.segib.org/pt-br
[Consultado em 18/02/2019].
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população de países de língua portuguesa, e de 66,67% da população de países de língua
castelhana, com a tendência para um ligeiro aumento do peso da população desta língua,
pois tem crescido a um ritmo mais elevado (quadro 3).
Quadro 3 População Ibero-americana*
* Inclui todos os países deste Espaço, situem-se na Península Ibérica ou no Continente Americano.
Fonte: UNCTADSTAT, e tratado pelos próprios autores.
No que concerne à economia do Espaço Ibero-Americano podemos dividir o mesmo em
três regiões económicas: países Ibéricos, países da América do Sul, e países da América
Central e das Caraíbas. O espaço económico no seu conjunto apresentou um crescimento
constante do PIB e do PIBpc nas duas décadas de 1990 e 2000, com o respetivo
crescimento global do PIB de 34% e 33%. Na década que se inicia em 2010 registou-se
no entanto uma desaceleração do PIB dentro do espaço, com igual reflexo no impacto do
PIBpc bem como uma redução da sua parte em termos do produto mundial
(quadro 4).
Quadro 4 Dados Macroeconómicos do Espaço Ibero-Americano (PIB e PIBpc a preços constantes
de 2010)*
* Dados incluem todos os países deste Espaço, situem-se na Península Ibérica ou no Continente
Americano.
Fonte: UNCTADSTAT, e tratado pelos próprios autores.
3.2. Análise do mercado Ibero-Americano
A natureza do mercado das três regiões que compõem o Espaço é um pouco distinta, em
especial entre os países americanos e os Estados que compõem a Península Ibérica. Para
os primeiros, podemos identificar que uma maior ênfase das atividades primárias e
de extração, bem como na construção, o que revela o gap relativo no desenvolvimento
destas regiões, onde se evidencia a necessidade de edificação de infraestruturas de
suporte às atividades económicas. Comparando com Portugal, notamos ainda que nas
Regiões Americanas existe um peso muito inferior das indústrias e manufaturas. Estas
são algumas das conclusões que podemos extrair através de uma leitura atenta dos
gráficos 2 a 4.
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A importância do espaço latino-americano na internacionalização das PMEs portuguesas
André Brás-dos-Santos; Joaquim Ramos Silva
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Gráfico 2- Distribuição das Atividades da Economia Portuguesa pelo Produto Ano 2016
Fonte: PORDATA 2019. Editado pelos autores.
Gráfico 3 - Distribuição das Atividades da Economia dos países da América Latina pelo Produto
Ano 2017
Fonte: CEPAL Anuario Estadístico de América Latina y el Caraíbas, 2018. Editado pelos autores.
Gráfico 4 - Distribuição das Atividades Económicas dos países das Caraíbas pelo Produto Ano
2017
Fonte: CEPAL Anuario Estadístico de América Latina y el Caraíbas, 2018. Editado pelos autores.
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92
De acordo com o que vimos na parte teórica, e analisando a distribuição da produção dos
países da América Latina e Caraíbas pode-se concluir que têm uma forte dotação em
recursos naturais, pelo que não surpreende que as suas exportações tenham um peso
significativo de produtos associados a matérias-primas, o que os torna muito sensíveis
às flutuações dos seus preços nos mercados internacionais. Por exemplo, a quebra na
cotação das commodities” em meados da década de 2010, foi um dos fatores que mais
contribuiu para o fraco desempenho económico em vários países da região, relativamente
à primeira década do séc. XXI.
3.3. A Cooperação Internacional no Espaço Ibero-Americano
O processo de integração do Espaço Ibero-Americano, tem diversos patamares, visto que
se encontra subdividido pelo conjunto das relações de cooperação internacional entre os
Estados. Portugal e Espanha estão num patamar de integração superior, visto que
pertencem à Comunidade Europeia (desde 1986), à União Europeia (desde 1992 com o
tratado de Maastricht), e à União Monetária (desde 1999), tornando-os parceiros de
excelência no que concerne à maioria das políticas internacionais comunitárias,
constituindo em particular um importante fator para o enriquecimento do processo de
aproximação entre a União Europeia e os Países Latino-Americanos (Trein e Guerra
Cavalcanti, 2007). Com efeito, as fortes ligações dos dois países ibéricos à América Latina
são uma das vertentes que mais valoriza o seu posicionamento no contexto europeu.
Não surpreende aliás que a I Cúpula/Cumbre Ibero-Americana
9
tenha sido realizada em
Guadalajara no México em 1991, dando o primeiro passo no processo de integração do
Espaço Ibero-Americano na sua totalidade, poucos anos após a adesão de Portugal e
Espanha à Comunidade Europeia.
Por seu turno, o Mercado Latino-Americano é distinto do ponto de vista da cooperação e
da integração das Regiões da América Central e Caraíbas, e da América do Sul.
Assinalamos em seguida os dois casos mais relevantes sob este ponto de vista. Em 1991,
foi assinado o Tratado do Mercosul, originalmente por quatro países da América do Sul:
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e posteriormente em 2012 aderiu também a
Venezuela, surgindo com o objetivo de promover uma lógica de integração, visando um
mercado ampliado e mais aprofundado, que sirva de plataforma a inserção destes
Estados no mercado global em condições mais favoráveis (Diz e Luquini, 2011; Kegel e
Amal, 2013). Mais recentemente em 2012, foi criada a Aliança do Pacífico, “composta
por Colômbia, Peru, Chile e México, que aglomera países com padrões de inserção
internacional muito próximos, pautados pela liberalização comercial e a assinatura de
tratados de livre-comércio com países desenvolvidos e em desenvolvimento” (Bressan e
Luciano, 2018: 74).
Relativamente às relações institucionais entre a União Europeia e a América-Latina,
importa ainda fazer referência à assinatura do acordo Inter-Regional entre a UE e o
Mercosul, com o objetivo de abranger questões comerciais e económicas, a cooperação
em matéria de integração e de outras áreas de interesse mútuo, de modo a estreitar as
relações entre as duas regiões(Santos, 2014: 24)
10
. No entanto, e de acordo com Diz
9
Tendo sido até ao momento realizadas XXVI Cúpulas/Cumbres, sendo que instituída na IX Cúpula em
Havana, Cuba, no ano de 1999, a Secretaria de Cooperação Ibero-americana (SECIB). Órgão esse que
estipula a verdadeira institucionalidade do sistema ibero-americano (Freres, 2005).
10
Acordo Inter-Regional assinado em 1995, no entanto, o mesmo só foi aprovado pelo Conselho de Ministros
Europeus em 1999.
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A importância do espaço latino-americano na internacionalização das PMEs portuguesas
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93
e Luquini (2011), não se tem verificado uma grande evolução na integração destes dois
Espaços, sendo que ao longo das duas últimas décadas ocorreram alguns avanços, mas
também se levantaram inúmeros obstáculos ao processo. Todavia, e mais recentemente,
a União Europeia e o Mercosul celebraram um novo acordo no dia 28 de junho de 2019,
que pode levar a uma integração económica entre estes dois espaços, ou seja, como foi
noticiado, “chegaram hoje a um acordo político com vista a um acordo comercial
ambicioso, equilibrado e abrangente. O novo quadro comercial que faz parte de um
acordo de associação mais vasto entre as duas regiões irá consolidar uma parceria
estratégica ao nível político e económico e criar importantes oportunidades de
crescimento sustentável para ambas as partes”
11
. Independentemente deste passo em
frente, convém lembrar que o processo conducente a maior grau de comércio livre entre
a UE e o Mercosul foi lançado nos anos 1990 e os resultados até hoje foram magros,
12
pelo que o novo acordo deve ser acompanhado com cautela, tanto mais que persistem
dúvidas importantes sobre a sua implementação de parte a parte.
3.4. Portugal e o Mercado Latino-Americano
Importa ainda fazer uma breve análise das relações económicas entre Portugal e os
países latino-americanos.
Como referimos, as exportações têm vindo a ser fundamentais para o desenvolvimento
da economia portuguesa, o país tem vindo a ter um crescimento consolidado das
mesmas, onde podemos observar que o peso das exportações relativamente ao PIB
português tem crescido. Através do quadro 1, verificámos que em 2010, o peso das
exportações (bens e serviços) no PIB apresentava um valor de 30,1%, e que, em 2018,
se previa atingir um valor da ordem de 43,3% do PIB, o que corresponde a uma
verdadeira transformação da economia transacionável portuguesa. No que respeita às
exportações de bens (as que têm maior peso no conjunto), elas apresentam alguma
diversificação das matérias produzidas pela indústria, visto que não existe uma excessiva
concentração em um ou dois produtos principais. Assim podemos identificar as principais
matérias exportadas por Portugal no ano de 2017, em percentagem do total das
exportações: Produtos Petrolíferos Refinados (4,7%), Veículos Automóveis (4,2%),
Componentes Automóveis (4,1%), Calçados de Couro (3,5%), Papel Não Revestido
(1,9%), Pneus de Borracha (1,8%), Medicamentos Embalados (1,7%), Assentos (1,7%),
Camisolas de Malha (1,4%), Vinho (1,4%). Sendo que estes dez produtos equivalem a
cerca de 26,4% do total das exportações portuguesas.
13
Analisando agora as exportações portuguesas para o mercado latino-americano,
verificamos que este espaço não tem um grande peso no total das exportações nacionais,
tendo na última década variado entre os 3,1% e os 4% (gráfico 5). Por outro lado, e de
acordo com o quadro 5, na região, os principais países de destino das exportações
portuguesas, são: o Brasil com um peso entre os 1,26% e 1,73%; o México entre os
0,65% e 0,97%; a Argentina entre os 0,15% e 0,36%; o Chile entre os 0,18% e 0,27%;
a Colômbia que apresentou um crescimento nesta década dos 0,06% em 2010 para os
0,18% em 2016; por último, a Venezuela, país onde vive uma vasta comunidade da
11
https://ec.europa.eu/commission/presscorner/detail/pt/ip_19_3396 [Consultado em 12/07/2019]
12
Para uma análise da fase inicial deste processo e dos principais problemas que se colocam, bem a sua
permanência e difícil resolução, ver o cap. 3 de Silva, 2002b: 161-202.
13
Conforme os dados retirados no Observatory of Economic Complexity (OEC) -
https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/country/prt/ [Consultado em 08/04/2019].
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diáspora portuguesa, que nos últimos anos tem atravessado uma forte crise económica,
com repercussão direta nas exportações portuguesas. Podemos ver que a Venezuela
chegou a absorver 0,64% das exportações nacionais em 2013, e que não vai além de
0,02% em 2017. Apesar de se verificar que o mercado ibero-americano não tem um peso
muito significativo nas exportações portuguesas, o mesmo o deve ser descurado,
muito pelo contrário, pois trata-se de um mercado que permite uma expansão do
comércio externo português. Devido à sua proximidade linguística e cultural latina,
incluindo os movimentos migratórios, cuja influência referimos na parte teórica, mas
também à dimensão do próprio mercado, ambos os fatores o posicionam como um
espaço importante nas futuras estratégias de internacionalização portuguesa.
Gráfico 5 Peso do Espaço Ibero-Americano no Total das Exportações Portuguesas de 2010 a 2017
Fonte: Observatory of Economic Complexity (OEC) 2019. Editado pelos autores.
A este propósito vale a pena referir o exemplo da Espanha, que atualmente é o principal
mercado externo de Portugal com uma quota entre 1/4 a 1/5 das exportações nacionais
(gráfico 5), e onde os últimos 50 anos testemunharam uma alteração radical no contexto
da internacionalização portuguesa. Com efeito, em 1968 a Espanha representava
somente 1,5% das exportações portuguesas, passando só a ter um peso significativo nas
mesmas no pós-adesão à CEE, em 1986, verificando-se no ano de 1988 já atingiam um
peso de 11,2% e em 1991 de 14,9% (Silva, 1993: 182). Este exemplo demonstra que
as relações económicas entre Estados não são estáticas, e que muitas vezes dependem
das estratégias de internacionalização e das próprias relações institucionais entre países,
daí afirmarmos que à imagem do caso espanhol no último meio século, o mercado ibero-
americano pode vir a ter um papel de relevo nas futuras estratégias de
internacionalização portuguesas, com importantes efeitos ao vel das empresas e da
sua preparação.
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Quadro 5 Exportações portuguesas para o espaço latino-americano (em percentagem do total
das exportações portuguesas).
Fonte: Observatory of Economic Complexity (OEC) 2019. Editado pelos autores.
4. Análise da internacionalização das PMEs portuguesas para o Espaço
Latino-Americano
4.1. Caraterização dos inquéritos e metodologia utilizada
No âmbito deste trabalho, em junho de 2014, foi realizado um inquérito a PMEs
portuguesas, com vista a caraterizar o seu processo de internacionalização para a
América Latina, os seus resultados são analisados nesta secção. Partiu-se de uma base
de dados de PME e de exportadores para os países da América Latina de 5872 empresas
como universo do estudo. Chegou-se a este total, juntando uma lista de PMEs de
excelência do ano 2013 do IAPMEI com 3920 empresas, e uma base de dados das
empresas exportadoras para os mercados da América Central e do Sul da AICEP com
1952 empresas. No desenvolvimento do inquérito, contámos ainda com o auxílio de
associações empresarias
14
que o partilharam e divulgaram junto dos seus associados.
Obtivemos respostas de 107 empresas, o que corresponde a 1,8% da população do
universo, dos quais 50 questionários foram validados dentro dos parâmetros do estudo
(0,85% da população), por serem PMEs de acordo com os critérios referidos atrás e por
estarem internacionalizadas para a América Latina.
O inquérito foi dividido por quatro categorias de questões: I - Dados da empresa, II -
Perfil de exportação das PMEs, III - Caraterização do perfil de investimento internacional
14
ACIB Associação Comercial e Industrial de Barcelos, CCILC Câmara de Comércio e Indústria Luso
Colombiana e a CCILM Câmara de Comércio e Indústria Luso Mexicana.
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Espanha 23% 23% 20% 21% 21% 22% 22% 21%
América-Latina 3, 5% 3,4% 3,9% 4,0% 4,0% 3,7% 3,1% 3,7%
Argentina 0, 20% 0,15% 0,19% 0,36% 0, 18% 0,32% 0,16% 0,23%
Bolivia 0, 00% 0,01% 0,01% 0,01% 0, 02% 0,03% 0,01% 0,02%
Brazil 1, 26% 1,46% 1,70% 1,69% 1, 73% 1,45% 1,18% 1,68%
Chile 0,27% 0,21% 0,22% 0,18% 0,23% 0,23% 0,25% 0,26%
Colombia 0, 06% 0,09% 0,13% 0,10% 0, 16% 0,16% 0,18% 0,12%
Costa Rica 0, 03% 0,02% 0,02% 0,02% 0, 02% 0,03% 0,03% 0,01%
Cuba 0, 05% 0,05% 0,10% 0,07% 0, 07% 0,09% 0,09% 0,08%
Dominican Republic 0, 02% 0,02% 0,03% 0,03% 0, 03% 0,04% 0,04% 0,05%
Ecuador 0, 03% 0,03% 0,03% 0,07% 0, 05% 0,10% 0,07% 0,04%
El Salvador 0, 02% 0,02% 0,02% 0,02% 0, 03% 0,03% 0,02% 0,03%
Guatemala 0, 01% 0,01% 0,01% 0,02% 0, 02% 0,04% 0,03% 0,02%
Honduras 0, 01% 0,01% 0,01% 0,01% 0, 01% 0,01% 0,01% 0,01%
Mexico 0, 97% 0,88% 0,65% 0,61% 0, 75% 0,70% 0,71% 0,94%
Nicaragua 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,01% 0,00% 0,01%
Panama 0, 02% 0,02% 0,04% 0,03% 0, 04% 0,04% 0,04% 0,04%
Paraguay 0, 00% 0,04% 0,05% 0,06% 0, 05% 0,03% 0,03% 0,04%
Peru 0, 06% 0,06% 0,08% 0,08% 0, 08% 0,10% 0,08% 0,08%
Uruguay 0, 02% 0,02% 0,03% 0,04% 0, 09% 0,03% 0,02% 0,02%
Venezuela 0, 44% 0,30% 0,59% 0,64% 0, 44% 0,27% 0,15% 0,02%
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das PMEs, IV- Caraterização do processo de internacionalização e avaliação do papel
institucional. Na elaboração do mesmo tomámos por base o inquérito elaborado por
Simões (2010), adaptado para se estudar as PMEs (Silva e Simões, 2012), e
complementado com novas questões, destinadas à obtenção de dados sobre a avaliação
das organizações, com base nas metodologias de Hill e Hill (2008) e Manheim et al.
(2007). Foi ainda utilizado o SPSS (na versão 22) para proceder à tabulação, codificação
e análise da informação, tendo por base uma análise descritiva de frequências.
4.2. Caraterização do perfil das PMEs e da sua Internacionalização
A maioria das empresas que compõem a amostra tem proveniência de 5 distritos do
Litoral do país (Porto, Aveiro, Lisboa, Leiria e Setúbal) que correspondem a 76% do total.
Estas empresas na sua maioria estão ligadas às indústrias transformadoras, 64%, bem
como a maioria das empresas tem um capital social superior a 100 mil euros, 69,4%. Do
ponto de vista dos postos de trabalho, identificámos que 88% das PMEs inquiridas m
mais de 10 trabalhadores. Pudemos ainda observar que na atividade internacional, 70%
das empresas dedicam-se à exportação, 16% exportam e efetuam investimento direto,
e que 14% mantém outro tipo de atividade internacional, como por exemplo, parcerias.
Do ponto de vista da consolidação da internacionalização das empresas, os resultados do
inquérito mostram que dois terços têm atividade internacional mais de dez anos, ou
seja 66%. Relativamente à importância da atividade internacional na faturação das
empresas, verificamos que o peso foi superior a 50% da faturação em 40% da amostra,
e entre 25 a 50% da faturação em 23% da amostra. Quanto ao tipo de presença nos
países para onde exportam, através do quadro 6, podemos verificar que nos meios
utilizados a forma mais frequente é a «abordagem direta ao cliente» (28%), seguida da
«sem presença» (8%), da existência de um «agente» (8%), e de «rede de distribuidores»
(8%).
Quadro 6 Tipos de presença externa?
Tipos de Presença
Frequência
Percentagem
Percentagem
acumulada
Abordagem direta ao cliente
14
28%
28%
Sem presença
4
8%
36%
Agente
4
8%
44%
Rede de Distribuidores
4
8%
52%
Agente e Abordagem Direta ao Cliente
3
6%
58%
Rede de Agentes, Abordagem Direta ao Cliente
3
6%
64%
Rede de Distribuidores, Abordagem Direta ao Cliente
3
6%
70%
Agente, Rede de Agentes, Rede de Distribuidores
2
4%
74%
Filial/Sucursal
2
4%
78%
Agente, Rede de Agentes, Abordagem Direta ao Cliente
1
2%
80%
Agente, Rede de Agentes, Rede de Distribuidores,
Abordagem Direta ao Cliente
1
2%
82%
Agente, Rede de Distribuidores
1
2%
84%
Agente, Rede de Distribuidores, Abordagem direta ao
Cliente
1
2%
86%
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Tipos de Presença
Frequência
Percentagem
Percentagem
acumulada
Agente, Rede de Distribuidores, Filial/Sucursal
1
2%
88%
Agente, Rede de Distribuidores, Filial/Sucursal,
Abordagem direta ao Cliente
1
2%
90%
Filial/Sucursal, Abordagem direta ao Cliente
1
2%
92%
Prestação de serviços deslocado
1
2%
94%
Rede de Agentes
1
2%
96%
Rede de Agentes, Rede de Distribuidores, Abordagem
direta ao Cliente
1
2%
98%
Turismo
1
2%
100%
Total
50
100%
Relativamente às atividades (de exportação) que foram desenvolvidas, verificou-se
que o país mais mencionado pelas empresas, foi o Brasil (31% das menções), seguido
da Colômbia (16%), México (12%), Chile (10%), Argentina (7%), e Uruguai (7%),
exportam ainda com pouca frequência para dez outros países e sete outros não são
sequer mencionados (quadro 7). Porém, verificamos que 47% das empresas manifesta
ter interesse em exportar futuramente para a América Latina, com especial relevância
para a Colômbia (13%), Brasil (10%) e México (8%) (quadro 8).
Quadro 7 - Países da América-latina para onde exportam?
País
Total de Menções
1ª Posição
2ª Posição
3ª Posição
Frequência
Percentagem
Frequência
Percentagem
Frequência
Percentagem
Frequência
Percentagem
Brasil
18
31%
16
57%
1
5%
1
8%
Colômbia
9
16%
2
7%
4
18%
3
23%
México
7
12%
4
14%
2
9%
1
8%
Chile
6
10%
4
14%
1
5%
1
8%
Argentina
4
7%
1
4%
2
9%
1
8%
Uruguai
4
7%
0
0%
2
9%
2
15%
Honduras
2
3%
0
0%
2
9%
0
0%
Peru
2
3%
0
0%
1
5%
1
8%
Venezuela
2
3%
0
0%
1
5%
1
8%
Costa Rica
1
2%
0
0%
0
0%
1
8%
El Salvador
1
2%
1
4%
0
0%
0
0%
Panamá
1
2%
0
0%
1
5%
0
0%
Paraguai
1
2%
0
0%
0
0%
1
8%
Bolívia
0
0%
0
0%
0
0%
0
0%
Cuba
0
0%
0
0%
0
0%
0
0%
Equador
0
0%
0
0%
0
0%
0
0%
Guatemala
0
0%
0
0%
0
0%
0
0%
Haiti
0
0%
0
0%
0
0%
0
0%
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País
Total de Menções
1ª Posição
2ª Posição
3ª Posição
Frequência
Percentagem
Frequência
Percentagem
Frequência
Percentagem
Frequência
Percentagem
Nicarágua
0
0%
0
0%
0
0%
0
0%
República Dominicana
0
0%
0
0%
0
0%
0
0%
Total Validado
58
100%
28
100%
17
77%
13
100%
Outros s/ indicar
15
5
15%
5
23%
5
28%
Total
73
33
22
18
Jamaica
1
0
Guiana
1
Do ponto de vista do investimento direto estrangeiro, notamos que a sua importância é
reduzida quando comparada com as exportações. Neste sentido para o inquérito
responderam somente 46% das empresas da amostra, ainda assim pudemos identificar
o seguinte: 65% destas empresas detêm IDE nos países da América Latina há menos de
2 anos. O peso destes investimentos na faturação é ainda reduzido, pois para 44% dos
inquiridos o mesmo é inferior a 5% da faturação, e com um valor acumulado de 88% das
empresas onde o peso é inferior a 25% da faturação. Ao nível dos países que recebem o
IDE, dos 20 possíveis, afigura-se que apenas 8 países atraíram investimento direto por
parte das empresas inquiridas, onde se destaca o Brasil (22%), Argentina (11%), Chile
(11%), Colômbia (11%), Costa Rica (11%), México (11%), Panamá (11%), e Peru
(11%). Na resposta à questão sobre interesse em futuros movimentos de IDE, só foram
considerados 18% de possibilidades para investimentos na América Latina, sendo os
restantes 82% em diversos países de outros continentes.
Quadro 8 - Países Futuros para Exportação no Contexto Geral
País
Total de Menções
1ª Posição
2ª Posição
3ª Posição
Frequência
Percentagem
Frequência
Percentagem
Frequência
Percentagem
Frequência
Percentagem
Colômbia
8
13%
3
13%
3
14%
2
12%
Brasil
6
10%
5
21%
1
5%
0
0%
EUA
5
8%
3
13%
1
5%
1
6%
México
5
8%
0
0%
3
14%
2
12%
Alemanha
4
6%
1
4%
1
5%
2
12%
França
3
5%
0
0%
3
14%
0
0%
Rússia
3
5%
2
8%
0
0%
1
6%
Angola
2
3%
1
4%
1
5%
0
0%
Argentina
2
3%
1
4%
0
0%
1
6%
Espanha
2
3%
1
4%
0
0%
1
6%
Panamá
2
3%
1
4%
1
5%
0
0%
Peru
2
3%
2
8%
0
0%
0
0%
Polónia
2
3%
0
0%
1
5%
1
6%
Uruguai
2
3%
0
0%
0
0%
2
12%
Arábia
Saudita
1
2%
0
0%
0
0%
1
6%
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A importância do espaço latino-americano na internacionalização das PMEs portuguesas
André Brás-dos-Santos; Joaquim Ramos Silva
99
País
Total de Menções
1ª Posição
2ª Posição
3ª Posição
Frequência
Percentagem
Frequência
Percentagem
Frequência
Percentagem
Frequência
Percentagem
Bélgica
1
2%
1
4%
0
0%
0
0%
Belize
1
2%
0
0%
1
5%
0
0%
Cabo Verde
1
2%
1
4%
0
0%
0
0%
Chile
1
2%
1
4%
0
0%
0
0%
China
1
2%
0
0%
1
5%
0
0%
Coreia do
Sul
1
2%
0
0%
1
5%
0
0%
Holanda
1
2%
0
0%
1
5%
0
0%
Indonésia
1
2%
0
0%
0
0%
1
6%
Moçambique
1
2%
0
0%
1
5%
0
0%
Noruega
1
2%
0
0%
0
0%
1
6%
Paraguai
1
2%
0
0%
1
5%
0
0%
Reino Unido
1
2%
0
0%
0
0%
1
6%
Trinidad e
Tobago
1
2%
1
4%
0
0%
0
0%
Total
62
100%
24
100%
21
100%
17
100%
América
Latina
29
47%
13
54%
9
43%
7
41%
Outras
regiões
33
53%
11
46%
12
57%
10
59%
4.3. Avaliação do Processo de Internacionalização e das Instituições
portuguesas que prestam apoio
Foram ainda questionados outros aspetos relevantes para o processo de
internacionalização, nomeadamente quais as formas preferenciais de abordagem? Quais
os seus motivos? Quais os principais entraves ao processo?
Em termos das formas preferenciais de abordagem, identificámos que as principais
passam pela «Deslocação e contacto direto» (74%), e pela «Participação em feiras»
(68%). Relativamente aos motivos, o mais mencionado foi o «Aumento da quota de
mercado» (82%), seguido da «Notoriedade e reconhecimento no mercado nacional»
(30%) e «Proximidade dos clientes» (28%) (quadro 9). Quanto aos entraves
identificados no processo os mais relevantes foram os «aspetos burocráticos» (64%),
como segundo motivo mais frequente surge a «falta de incentivos» (34%), seguindo em
terceira posição, em simultâneo, a «dificuldade para obter financiamentos» e a «falta de
informação» (22%). Motivo ainda muito relevante é a «dificuldade de acesso às
instituições» (18%).
Quadro 9 - Principais motivos para a internacionalização?
Sim
Não
Motivos para internacionalização
Frequência
Percentagem
Frequência
Percentagem
Total
Aumento de quota de mercado
41
82%
9
18%
50
Notoriedade e reconhecimento no mercado nacional
15
30%
35
70%
50
Procura de recursos
7
14%
43
86%
50
Proximidade dos clientes
14
28%
36
72%
50
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A importância do espaço latino-americano na internacionalização das PMEs portuguesas
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100
Sim
Não
Valorização mais justa do produto
1
2%
49
98%
50
Presença de comunidade estrangeira na região da
empresa
1
2%
49
98%
50
Procedeu-se também a uma avaliação por parte das empresas às principais instituições
que, em Portugal apoiam o processo de internacionalização, de Mau (pontuação 1) a
Muito Bom (pontuação 5), reservando a pontuação 3 para os casos em que a empresa
não sabe ou não responde (posição de indiferença), sendo que o mesmo nos evidenciou
o seguinte (quadro 10): as Associações Empresariais/Comerciais são as mais pontuadas
(165 pontos), seguindo-se as Câmaras de Comércio (152 pontos), o IAPMEI (151
pontos), o AICEP e as Embaixadas/Consulados (140 pontos) e por último o Governo (122
pontos). Não deixa de ser interessante notar que as firmas respondentes valorizam mais
as organizações profissionais como associações empresariais e câmaras de comércio do
que os organismos governamentais como AICEP, embaixadas/consulados (ou o
governo), sendo estas últimas especificamente formadas ou vocacionadas para o efeito.
Quadro 10 Avaliação das Instituições
AICEP
Associações
Empresariais/Comerciais
Câmaras de
Comercio
Embaixadas/
Consulados
Governo
IAPMEI
Mau (1)
16
5
8
15
16
5
Razoável (2)
9
14
7
4
3
13
Bom (4)
13
11
7
4
3
12
Muito Bom
(5)
9
14
9
10
2
6
NS/NR (3)
3
6
19
17
26
14
Pontuação
140
165
152
140
122
151
Solicitou-se ainda às empresas sugestões de melhoria às instituições. Das 50 empresas,
24% apresentaram sugestões, as quais foram sintetizadas no quadro 11.
Quadro 11 Sugestões das empresas com vista à melhoria do processo
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101
Por último, importa saber qual é a avaliação que as empresas têm do seu processo de
internacionalização, sendo que apenas 6% das empresas consideram a sua experiência
insatisfatória (quadro 12). As restantes empresas, com exceção de 6% que não têm
opinião, consideraram a experiência como positiva, ainda que em graus diversos. De
salientar que 42% avaliam a experiência como boa e 16% como muito boa.
Quadro 12 - Como avalia a sua experiência de internacionalização?
Frequência
Percentagem
Percentagem acumulada
Insatisfatória
3
6%
6%
Satisfatória
15
30%
36%
Sem opinião
3
6%
42%
Boa
21
42%
84%
Muito boa
8
16%
100%
Total
50
100%
5. Conclusões
Este trabalho teve por objetivo fazer uma análise política e económica da
internacionalização da economia portuguesa para a América Latina, em especial no que
concerne às suas PMEs. Vimos inicialmente como as PMEs são um grande motor da
economia portuguesa, tanto pelo seu número como pelo peso que têm no VAB e no
emprego. O clima recessivo da economia portuguesa no início dos anos 2010, tornou
imperiosa a necessidade de se internacionalizarem. É neste contexto que pretendemos
aferir de que forma a América Latina, uma área onde existem proximidades linguísticas
e históricas (basta lembrar as grandes correntes migratórias do passado) se mostram
um destino internacional importante para as PMEs portuguesas.
À luz das teorias de internacionalização que focámos na parte teórica, procurámos
identificar os contornos deste processo, por exemplo, verificando a pertinência de alguns
conceitos como Distância Psíquica. Neste sentido, foi possível confirmar que o mercado
Ibero-Americano não é muito expressivo nas exportações portuguesas pois não
correspondeu a mais do que 3,7% em valores médios das exportações no período de
2010 a 2017. Ainda assim, e pelas respostas ao inquérito verificámos que o espaço latino-
americano deve ser tido seriamente em conta na internacionalização futura das PMEs
portuguesas, pois correspondente a 47% das intenções de exportação das empresas
inquiridas.
Numa avaliação ao processo de internacionalização das PMEs que responderam ao
inquérito, podemos identificar que as mesmas apresentam um comportamento algo
semelhante ao processo aplicado dentro da Teoria da Escola Nórdica de Negócios,
processo gradual de internacionalização. Visto que a maioria das empresas (cerca de
70%) se dedica à exportação, e procurando diretamente o cliente, ao que notamos
um residual número de empresas que detêm um «agente» ou uma «rede de
distribuição». No que concerne ao IDE verificamos que são poucas as empresas da
amostra que realizaram investimentos na América Latina, o que para o caso das PME não
deve surpreender atendendo ao que referimos na parte teórica deste trabalho quando ao
seu acesso a recursos, nomeadamente financeiros e humanos. Considerando um outro
inquérito recente (Return on Ideas, 2018), o mesmo corrobora a análise que
expressamos anteriormente no que respeita à internacionalização das PMEs portuguesas
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para o mercado mundial. Com efeito, refere que a exportação direta para clientes
internacionais (61%), exportação ocasional (25%), e exportação através de agente
internacional (16%) são as principais formas de internacionalização das PMEs
portuguesas, enquanto que o recurso ao IDE por estas empresas é residual, assumindo
a forma de sucursal e/ou filial própria (9%) e raramente a presença no estrangeiro se
traduz em unidades de produção/fabrico (1%).
Apesar do perfil que se acaba de caraterizar, importa sublinhar que a importância da
componente internacional no peso da faturação é bastante significativa para as empresas
inquiridas, mostrando que as PMEs se encontram num processo de gradual crescimento
positivo de internacionalização, eventualmente no futuro realizando até investimentos
externos de médio e longo prazo, proporcionando assim uma aprendizagem contínua do
processo. O que pode permitir a existência de estratégias e operações internacionais
acertadas, não excluindo até investimentos. Considerando esta análise parece-nos
consistente a autoavaliação efetuada pelas empresas.
Este trabalho está longe de marcar uma conclusão das investigações realizadas, é sim
mais um passo no processo de investigação sobre a internacionalização da economia
portuguesa, para uma região mundial importante, onde as empresas portuguesas podem
usufruir, se a sua ação for adequada e conhecerem o terreno que pisam, de vantagens.
Neste sentido, temos em mente o prosseguimento da investigação, desenvolvendo a
temática da internacionalização das PMEs para a América Latina, alargando a amostra, e
complementando-a com estudo de casos, o que permitiria ultrapassar os limites que um
inquérito realizado em determinado ano, ainda que recente, comporta, e levaria a uma
visão mais longitudinal do processo analisado. Outro objetivo suscitado por esta
investigação é a de um estudo empírico que permita comparar de forma aprofundada o
caso português, com o processo das PMEs espanholas para o mesmo espaço, aferindo
semelhanças e diferenças e as suas causas.
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