Conjugadamente, estes fatores favoreceram o desenvolvimento do “pan-africanismo”
nas colónias portuguesas, a antítese encontrada para o recrudescimento do imperialismo
lusitano, em Angola e nos demais territórios portugueses em África.
O pan-africanismo é “provavelmente, o movimento político mais inclusivo do seu tempo.
Foi uma espécie de nacionalismo unindo todos aqueles que achavam que África deveria
recuperar o controlo da sua própria terra aliando-se aos descendentes de escravos
africanos do Novo Mundo que ainda eram objeto de exclusão racial lá” (Hart, 2007, p.95).
Durante este período, observa-se então a instituição da “economia informal” como (nova)
forma de prosseguimento do empreendedorismo, já não um empreendedorismo de
oportunidade, por força do devir histórico, mas essencialmente um empreendedorismo
de sobrevivência, fruto da exclusão económica e do agravamento das desigualdades
sociais.
Trata-se de um fenómeno que se começa a desenhar com a revolução urbana ocorrida
em África na dinâmica histórica século XX e que tem o seu apogeu na transição da social-
democracia para o neo-liberalismo, já em período pós-colonial (Hart, 2007, p.97).
Grassi (1998) infere que sendo “a realidade económica predominante, em muitos países
da África subsariana, […] o mercado informal, é neste espaço que, provavelmente,
embora não exclusivamente, se tem que procurar o empresário africano emergente”.
Lopes (2007, p.40) confirma explicitamente a existência de uma economia informal pré-
independência na cidade de Luanda. Essas “actividades informais desempenhavam uma
função estritamente subsidiária do sector formal da economia, dominante, estruturante
e dotado dos indispensáveis mecanismos de controlo e regulação. A economia informal
de Luanda restringia-se às atividades artesanais tradicionais, à prestação de serviços –
nomeadamente serviços domésticos –, ao comércio ambulante, ao comércio à porta de
casa, aos mercados dos musseques e às atividades relacionadas com construção de
habitação das populações autóctones na sua periferia”.
Embora não existam (naturalmente) estatísticas oficiais que permitam dimensionar o
fenómeno com precisão absoluta, a mesma fonte, citando dados de 1995, refere que “a
economia informal de Luanda assegurava, de forma exclusiva, a subsistência de 42%
das famílias luandenses, representando 56% da população economicamente ativa
(população de 10 anos de idade ou mais) na capital angolana” (Lopes, 2007, p.39).
Vários outros estudos, citados na mesma obra, permitem estimar que a economia
informal representaria cerca de 50% do sector não petrolífero angolano neste período,
com tendência para estabilizar em torno deste percentual, apesar de vários aumentos e
recuos até ao momento atual.
Fora da economia informal, Rodrigues (2008), utilizando dados recolhidos por Rela
(1992), salienta que, em 1955, três quartos das 1.810 empresas com atividade registada
em Angola encontra-se ligada à produção agrícola e a atividades semi-artesanais, como
moagens, padarias e marcenarias. Empresas marcadamente industriais não seriam mais
de 12, quase todas situadas em Luanda.
A mesma fonte refere que “após a segunda guerra mundial, o aumento da importância
do porto de Luanda – que passa a concorrer com o maior existente até à data, o do
Lobito – associado ao incremento da atividade comercial, tornam Luanda um local
atraente para a implantação de indústria” (Rodrigues, 2008, p.194)