Conceito de Assemblages globais de segurança – o que é e por que o
utilizamos?
O conceito de assemblages não é novo e tem sido usado em várias disciplinas nas
décadas anteriores. Originalmente, o conceito e a teoria das assemblages foram
introduzidos pelos filósofos franceses Deleuze e Guattari (1987) e, depois deles, foram
amplamente utilizados e desenvolvidos na sociologia e na ciência política.
O contributo de Deleuze para o pensamento da assemblage foi amplamente aceite, mas
sobretudo as suas ideias rudimentares e dispersas, e não tanto a teoria articulada
(DeLanda, 2006: 3). Deleuze e Guattari estabeleceram o conceito de assemblages, ainda
primordiais na articulação, mas contendo três elementos essenciais: máquina abstrata,
elemento concreto e personae. Tal como Nail (2017: 23–24) sublinhou, para Deleuze e
Guattari, as assemblages são como máquinas abstratas, pois a) não existem como
coisa/objeto no mundo, sendo antes um conjunto de relações externas que circundam
elementos e agências e b) são redes de relações externas específicas definidas pela
composição, mistura e agregação. As assemblages também precisam de ter um elemento
concreto, uma modalidade existente de assemblages, como uma estrutura esquelética
ou um arquipélago (Nail, 2017: 26). Por fim, as personae das assemblages são agentes
que não podem ser observados e estudados independentemente, pois são operadores
móveis que ligam elementos concretos de acordo com as suas relações abstratas.
Deleuze e Guattari dão exemplos de um corredor ou intercessor, afirmando que “A
persona é necessária para relacionar conceitos no avião, assim como o próprio avião
precisa de ser definido” (Deleuze & Guattari, 1996: 73–76).
Em 2006, DeLanda apresentou o que achava ser uma versão melhorada da teoria da
assemblage, que ele considerou ser a versão 2.0 da Deleuze ou, como a designou, "teoria
da neo-assemblage" (DeLanda, 2006: 4). O seu objetivo era libertar a teoria das
Assemblages da divisão micro-macro e permitir uma análise cruzada de entidades e
processos sociológicos. A diferença dos conceitos isolados mencionados por Deleuze está
na recolha de certos elementos do pensamento da assemblage e fazer com que façam
sentido do ponto de vista analítico. Por exemplo, partiu da ontologia social de Deleuze e
Guattari (indivíduos, grupos e campo social), que considerava primitiva, e alargou-a a
organizações internacionais e redes interpessoais. Além disso, vai mais longe, mostrando
que as assemblages devem ser totalmente "independentes das nossas mentes", pedindo-
lhes que sejam agentes autónomos e independentes da mente. DeLanda reconhece que
a exterioridade das relações é uma suposição importante das assemblages. Isso implica
que as assemblages não são uma formação firme e estática; podem ser separadas em
partes funcionais que interagem com os outros atores, mas ainda assim, quando
interagem entre si, as suas interações podem resultar em síntese (DeLanda, 2006: 11).
Além disso, analisa as relações binomiais entre territorialização e desterritorialização e
usa a codificação para analisar cada elemento da interação entre as partes que formam
a assemblage.
DeLanda dedicou cada capítulo a um tipo diferente de assemblage, para expressar a
variedade de formas que podem assumir: social (capítulo 1), linguística (capítulo 2),
marcial (capítulo 3), práticas científicas (capítulo 4), uma diagramação do real e do
virtual (capítulo 5), atómicas, genéticas e químicas (capítulo 6) e soluções científicas e
matemáticas (capítulo 7).