da paz” (Nações Unidas, 2014b). Em 2002, foi criado o Grupo de Trabalho Ad hoc sobre
Prevenção e Resolução de Conflitos em África (Nações Unidas, 2002). Mais recentemente,
definiu um Cluster de Prevenção de Conflitos e Gestão de Crises pelo Escritório das
Nações Unidas para a União Africana (UNOAU), que é uma parceria estratégica em
prevenção e mediação de conflitos, operando “em todas as fases do ciclo de conflitos”
entre A ONU e a UA (Escritório das Nações Unidas para a União Africana, sd).
A cooperação entre diferentes atores no campo da paz e segurança tem sido uma
tendência que evoluiu e cresceu. Isso implica, por vezes, uma “sobreposição institucional
de atores” que “operam e intervêm na mesma área geográfica […] na mesma crise e ao
mesmo tempo ou substituindo-se uns aos outros” (Sousa, 2017, p. 572). Assim, a falta
de alinhamento e a tendência para divergências, contradições e duplicidade de esforços
e recursos são frequentes. A África tem sido palco de disputas entre a ONU, a UA e as
organizações regionais (Nathan, 2017, p.151).
As operações iniciadas por organizações regionais precisam de autorização do Conselho
de Segurança antes da sua implantação (Carta das Nações Unidas, Capítulo VIII, Art.
53), causando em muitas ocasiões "desacordos [...] a vários níveis de tomada de
decisão" entre a ONU e a UA (Desmidt & Hauck, 2017, p.15), mas também com a
CEDEAO, que “não reconhece explicitamente a supremacia do CSNU [Conselho de
Segurança das Nações Unidas] em termos de paz e segurança” (Jetschke & Schlipphak,
2019, p. .4). Como Williams destacou (2017, p.129), é necessário que “a ONU
desenvolva mecanismos de apoio apropriados” para as organizações regionais em África,
especialmente devido à falta de “financiamento previsível, sustentável e flexível” que eles
têm (Williams, 2017, p.129).
Ao mesmo tempo, há divergência entre a UA e as organizações regionais, como a
CEDEAO, onde uma “falta de clareza sobre subsidiariedade e divisão do trabalho […]
muitas vezes conduz a soluções ad-hoc e pragmáticas” (Desmidt, 2019, p. 2), afetando
a implantação de medidas preventivas. A partir da UA, o conceito de primazia é levantado
(Desmidt, 2019, p.4), no entanto, o princípio da subsidiariedade “afirma que as respostas
ao conflito devem ser formuladas por organizações com maior proximidade” (Desmidt,
2019, p. 12). Assim, como destacou Nathan (2017, p.157), os documentos de política
“são ambíguos ou contraditórios” ao lidar com a gestão das crises.
No geral, embora a regionalização da segurança ofereça uma grande oportunidade para
incentivar políticas de prevenção de conflitos, ainda existe uma dependência em atores
externos. Este facto causa uma sobreposição e confusão entre todas as partes
interessadas que intervêm numa crise, dificultando a capacidade de ação de intervir ou
agir preventivamente.
4. A experiência da CEDEAO na prevenção de conflitos
A região da África Ocidental é um excelente exemplo para analisar essas questões, pois
passou por um processo interessante de regionalização da segurança e também passou
por intervenções de diferentes atores.
Esta região atraiu um grande interesse e preocupação, devido ao número de conflitos
que ocorreram na região. Por esse motivo, em 2000 foi estabelecido um gabinete regional
de resolução de conflitos no Senegal, atualmente o Escritório das Nações Unidas para a
África Ocidental e o Sahel (UNOWAS), cujos objetivos são desenvolver a diplomacia