Deste modo, a adoção do conceito de “paradiplomacia” remete para “o estudo do
relacionamento externo de atores sociais distintos dos poderes centrais dos Estados
nacionais” (Curto et al. 2014: 115). Por conseguinte, para além da contextualização e
caracterização da cooperação entre a Região Norte e a Galiza, pretendemos igualmente
compreender se a Eurorregião Galiza-Norte de Portugal se apresenta como um ator
relevante nesta diplomacia não-estatal.
Assim, em primeiro lugar serão explicitados os fatores que motivaram a cooperação entre
o Norte de Portugal e a Galiza; em segundo lugar, serão identificadas as etapas de
institucionalização da cooperação transfronteiriça entre as duas regiões; de seguida,
serão evidenciadas as áreas estratégicas de cooperação, bem como as iniciativas e
projetos implementados na Eurorregião; posteriormente, proceder-se-á a uma avaliação
da cooperação entre a Região Norte e a Galiza, antecipando alguns desafios para o
futuro; finalmente, procuraremos aferir se é possível falar de uma paradiplomacia da
Eurorregião Galiza-Norte de Portugal.
Fatores que motivaram a cooperação entre o Norte de Portugal e a Galiza
Historicamente, a convivência e os intercâmbios entre o Norte de Portugal e a Galiza têm
beneficiado da contiguidade geográfica e das afinidades culturais e linguísticas (Cancela,
2010: 152). Ademais, tal como explicam Trillo e Lois (2011: 129), “a procura de
benefícios pelas diferenças de salário, os preços da habitação, solo, matérias primas,
produtos manufaturados ou atividades de ócio explicam movimentos transfronteiriços
diários ou frequentes, o que só pode ocorrer em áreas afetadas pela fronteira”. Não
obstante, existem outros fatores de cariz político e institucional que favoreceram esta
cooperação.
A transição democrática de Portugal e Espanha na segunda metade da década de 1970
influenciou decisivamente a reorientação das respetivas políticas externas, o que
impulsionou a cooperação transfronteiriça entre os dois Estados. Com efeito, em 1977
foi assinado o Tratado de Amizade e Cooperação entre Portugal e Espanha, com o
propósito de “fortalecer os vínculos de amizade e solidariedade que existem entre os dois
países”. Considerava-se que o reforço da cooperação entre os Estados ibéricos e a
prossecução de uma prática de boa vizinhança contribuiriam para a paz e segurança
internacionais, assim como para o “desenvolvimento harmonioso das relações que
decorrem de um património histórico e cultural compartilhado”. Pretendia-se, portanto,
estimular relações económicas mutuamente vantajosas – especialmente nos sectores da
indústria, comércio, mineração, agricultura, pesca, transportes e turismo –, desenvolver
novas áreas de cooperação e “promover a proteção e aproveitamento racional dos
recursos naturais de uso comum” (Artigos 3.º, 4.º e 7.º).
Revela-se imprescindível assinalar, igualmente, a descentralização do Estado espanhol
(na sequência da aprovação da Constituição de 1978), que conduziu ao estabelecimento
de comunidades autónomas. Efetivamente, a Galiza é, desde 1981, uma Comunidade
Autónoma, cujos poderes políticos emanam do seu Estatuto de Autonomia. Possui as
suas próprias instituições políticas – um Parlamento, um Governo Regional e um
Presidente – e o seu território está dividido em províncias e municípios.
Por outro lado, para Pardellas e Padín (2017: 12), “o processo de integração europeia
constituiu um ponto de inflexão na história das fronteiras”, desde logo, pela abolição das