OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
Vol. 10, Nº. 1 (Maio-Outubro 2019), pp. 131-149
INTENÇÕES E MOTIVAÇÕES DE MOBILIDADE INTERNACIONAL DE UMA
COMUNIDADE DE ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE DO ALGARVE
Margarida Viegas
mmviegas@ualg.pt
Professora-adjunta de Métodos Quantitativos Aplicados na Escola Superior de Gestão, Hotelaria e
Turismo da Universidade do Algarve (ESGHT-UAlg). É licenciada em Engenharia de Sistemas
Decisionais pelo ISMA-COCITE e pós-graduada em Gestão Financeira pela UAlg e em Direção
Estratégica e e-Business pela Universidade de Huelva. Possui mestrado em Estatística e Gestão
de Informação pelo ISEGI-Universidade Nova de Lisboa e doutoramento europeu em Gestão e
Economia de Pequenas e Médias Empresas pela Universidade de Huelva, que distinguiu a sua
tese com a atribuição do Premio Extraordinario de Doctorado
Rita Baleiro
rbaleiro@ualg.pt
Doutorada e mestre em Estudos Anglo-Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa (UNL). É professora-adjunta na Escola Superior de
Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve. É membro integrado do Centro de
Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, colaboradora do
Centre for English, Translation and Anglo-Portuguese Studies da UNL e membro do Grupo de
Pesquisa Turismo, Espaço e Urbanidades da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É coeditora
da revista Dos Algarves: A Multidisciplinar e-Journal, desde 2007.
Resumo
Neste estudo reúnem-se dados sobre a mobilidade de um grupo de estudantes do ensino
superior público português com o objetivo de compreender como estes jovens perspetivam o
seu futuro profissional e a hipótese de mobilidade internacional laboral e académica, numa
época de crise económica e social. A partir dos dados de um inquérito por questionário
aplicado a 425 estudantes da Universidade do Algarve, em 2016, analisa-se a sua
predisposição para a mobilidade em função das suas perspetivas profissionais, caraterísticas
demográficas e competências linguísticas. Os resultados mostram que a maioria (69.6%) dos
inquiridos considera a hipótese de vir a trabalhar no estrangeiro e que esta intenção é
motivada pela descrença de vir a alcançar, em Portugal, um trabalho que proporcione
estabilidade e segurança, boas condições remuneratórias e prestígio social. Enquanto a
possibilidade de efetuar uma experiência académica internacional, considerada por 60.7% dos
estudantes, não apresenta associação com a autoavaliação benevolente dos conhecimentos
linguísticos, no caso da mobilidade laboral verifica-se que esta predisposição é maior entre
aqueles que expressam uma maior confiança no seu domínio da língua inglesa.
Palavras chave
Mobilidade internacional; estudantes; Universidade do Algarve; crise económica; Portugal
Como citar este artigo
Viegas, M, Baleiro, R (2019). "Intenções e motivações de mobilidade internacional de uma
comunidade de estudantes da Universidade do Algarve". JANUS.NET e-journal of International
Relations, Vol. 10, N.º 1, Maio-Outubro 2019. Consultado [online] em data da última consulta,
https://doi.org/10.26619/1647-7251.10.1.9
Artigo recebido em 16 de Janeiro de 2018 e aceite para publicação em 22 de Fevereiro
de 2019
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estudantes da Universidade do Algarve
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INTENÇÕES E MOTIVAÇÕES DE MOBILIDADE INTERNACIONAL DE UMA
COMUNIDADE DE ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE DO ALGARVE
Margarida Viegas
Rita Baleiro
1. A crise económica e financeira de 2008 e a mobilidade internacional
dos estudantes universitários portugueses
No início da primeira década do século XXI, quando os portugueses ponderavam o tema
da emigração em Portugal, o mais provável seria concluir que esse tipo de movimento
migratório tivera o seu auge nos anos 50 e 60 do século XX e que no primórdio do século
XXI o foco da atenção seria exatamente o movimento oposto: o da imigração. De facto,
tal como refere Jorge Malheiros numa reflexão sobre este assunto, entre o começo da
década de 1990 e os meados do primeiro decénio do século XXI, sucedia que quer para
a classe política quer para a academia a emigração portuguesa havia adquirido “um
estatuto de quase invisibilidade na abordagem dos fenómenos migratórios” (2011: 133).
Tal sucedia pois Portugal beneficiava do estatuto de país economicamente próspero e
estável para onde se ambicionava imigrar
1
e não de país de onde se pretendia emigrar.
A crise de 2008 veio todavia alterar este facto e quando, em 2016, realizámos este
estudo, em Portugal ainda se sentiam os seus efeitos. De facto, a falência do banco de
investimento Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, desencadeou ao jeito do
jogo da queda das peças do domi o colapso da bolha especulativa no mercado
imobiliário, por sua vez, potenciada pela enorme ampliação de crédito bancário e pela
criação e aplicação de novos instrumentos financeiros. Em consequência, a suspensão de
crédito provocou uma quebra aguda na produção industrial e no comércio internacional.
Em Portugal, estes efeitos juntamente com as políticas de austeridade (subida de
impostos, de preços, congelamento de ordenados, entre outras), a partir de 2010,
levaram à erosão das oportunidades de emprego para todos, mas com impactos
particularmente danosos nas camadas jovens, por serem estes os que em maior número
estavam a iniciar o percurso profissional (ver Carneiro, Portugal & Varejão, 2014).
Assim, se entre 2008 e 2013, em Portugal, a taxa de desemprego da generalidade da
população quase duplicara, passando de 7.6% para 16.2% (ver tabela 1), no grupo etário
“menos de 25 anos” registou-se uma alteração de 16.7%, em 2008, para 38.1 % em
2013. Em 2016, ano em que realizámos o nosso estudo, a mesma base de dados
estimava que a taxa de desemprego jovem (inferior a 25 anos) era de 28.0%. Ou seja,
1
Sobre o movimento de imigrantes para Portugal ver J.M. Malheiros & A. Esteves (2013). Diagnóstico da
população imigrante em Portugal: Desafios e potencialidades. Lisboa: Alto Comissariado para a Imigração
e Diálogo Intercultural.
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houve uma diminuição face aos anos precedentes, tal como aconteceu na zona euro,
onde a taxa de desemprego recuou de 22.2% (em 2015) para 20.7% (em 2016).
Tabela 1. Taxa de desemprego em Portugal: Total e por grupo etário (%)
Grupos etários
Total
<25
25-54
55-64
6.6
15.4
6.0
5.5
7.6
16.2
7.2
6.1
7.6
16.5
7.3
6.3
8.0
16.7
7.8
6.5
7.6
16.7
7.2
6.6
9.4
20.3
9.2
7.6
10.8
22.8
10.7
8.9
12.7
30.2
11.9
10.8
15.5
37.9
14.7
12.7
16.2
38.1
15.5
13.7
13.9
34.8
12.7
13.5
12.4
32.0
11.2
12.4
11.1
28.0
10.0
11.6
Fonte: Pordata (última atualização em 22.03.2017).
Sucede que mesmo quando os números do desemprego descem para a generalidade da
população, a percentagem de desemprego jovem permanece alta, para além de que a
maioria das oportunidades de emprego para os jovens correspondem fundamentalmente
a empregos temporários (Silva & Abrantes, 2017: 1336). De facto, as investigações que
analisaram o tema da empregabilidade e dos jovens, no caso português, assinalaram
que, para além das taxas elevadas de desemprego, crescentes desigualdades salariais
(Carmo, Cantante & Alves, 2014) e muita precaridade (Alves, Cantante, Baptista &
Carmo, 2011). Este último estudo realizado pelo Observatório das Desigualdades
registou ainda que a precariedade não se circunscreve à questão laboral e afeta as
múltiplas dimensões e setores da vida social dos jovens.
Neste quadro nacional, emigraram, entre 2010 e 2016, cerca de 96.000 portugueses por
ano (sendo que o pico se registou em 2014, com a saída de 134.624 cidadãos
portugueses).
2
Em função dos dados que recolhemos no portal do Observatório da
Emigração (citando dados da Nações Unidas), sabemos que em 2015 a percentagem de
emigrantes portugueses a viver na Europa era de 62%, ao passo que em 1990 havia sido
de 53%. Para além deste repentino e elevado número de emigrantes, é de notar, tal
como refere Jorge Malheiros, que esta vaga é distinta da dos anos 60 e 70 do século
passado: (i) a Europa é agora um espaço de emigração diverso, pois é um espaço de
livre circulação e (ii) “uma parte substancial desta emigração assume uma lógica
temporária e não definitiva, facto que também é favorecido pelas possibilidades de livre
circulação.” (2011: 135).
2
Ver “Estimativas das saídas totais de emigrantes portugueses, 2000-2015” no Observatório da Emigração,
consultado em 18 de julho de 2017.
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Tal como referimos, esta nossa investigação realizou-se em 2016, o ano em que a maior
crise financeira, desde a grande depressão de 1929, ia no seu oitavo ano. Vivia-se um
quadro de crise económica e de efeito das consequências da aplicação de medidas de
austeridade impostas pela tríade do Fundo Monetário Internacional, Banco Central
Europeu e Comissão Europeia, e todos estes fatores causaram implicações sérias nas
vidas e na perspetiva de vida de muitos jovens licenciados portugueses: desânimo,
precaridade laboral e desemprego (Cairns, 2015: 10; Cairns, 2017: 340).
São diversos os estudos que, no início do século XXI, registam o impacto da crise
económica na vida dos jovens europeus (ver Cairns, 2017; Papadopoulos, 2014; Dietrich,
2013; Aassve, Cottini & Vitali, 2013; Bell & Blanchflower, 2011; Scarpetta, Sonnet and
Manfredi, 2010). De facto, se durante os anos da crise económica, na Europa a taxa
global de desemprego aumentou 3.3% entre 2007 e 2013, a percentagem de
desemprego jovem sofreu ainda maiores agravamentos, atingindo o valor de 7.3 % na
faixa etária 20-24 e 5.1 % na faixa 25-29 (ver OCDE, 2013). Ou seja, no Velho
Continente a percentagem de jovens (20-24 anos) desempregados alcançou níveis
superiores ao dobro da percentagem global de desemprego. Esta tendência registou-se
em diversos países europeus (como, por exemplo, na República da Irlanda, na Grécia,
no Chipre, na Espanha). A exceção assinalou-se apenas na Alemanha onde a taxa de
desemprego jovem (20-24 anos) desceu 3.3% entre 2007 e 2012 (i.e. de 9.8% para
6.5%) (ver OCDE, 2013). Não obstante o impacto diferenciado da crise, os estudos
previamente indicados revelam que na grande maioria dos países a mobilidade laboral
internacional após o término das licenciaturas é uma das opções mais frequentes, mesmo
que transitória.
Por mobilidade entendemos o movimento geográfico entre fronteiras, para países que
não o de origem, com uma estada nima de duas semanas (Kmiotek-Meier, Carignani
& Vysotskaya, 2019: 32). Neste ponto, é também fundamental que reflitamos sobre a
distinção entre mobilidade e emigração, para concluir que, na senda de King, Lulle,
Morosanu e Williams (2016: 8), se verificou nos últimos anos uma alteração da
terminologia, no sentido de se preferir o primeiro termo ao segundo. Esta mudança deve-
se ao facto de mobilidade ser um termo politicamente mais neutro ao passo que
emigração tem um extenso passado sendo, em muitos países, perspetivada como uma
ameaça (King & Lulle, 2016: 30-31), implicando uma deslocação para um país onde se
permanece por períodos de tempo mais longos, por vezes até definitivamente, enquanto
que a mobilidade se caracteriza por ser um movimento mais transitório. Engbersen e
Snel (2013) sugerem o termo “mobilidade líquida” para se referirem a este tipo de
deslocações intrafronteiras, na Europa dos 28, que atualmente assume diversas formas
(viagens de trabalho, estágios académicos/profissionais, programas de estudos,
intercâmbios de vária ordem, entre outras). King, Lulle, Morosanu & Williams (2016: 9)
observam uma tendência, na Europa, para a utilização do termo mobilidade quando se
descrevem movimentos entre países europeus, pois este espelha melhor o lema da
“liberdade de circulação”, utilizando-se o termo emigração para indicar deslocações para
fora do espaço europeu.
Ainda neste ponto do trabalho cabe clarificar o conceito de juventude que, como as outras
categorias relativas à idade (infância, meia-idade ou velhice), é mais uma categoria social
e culturalmente construída e menos um conceito definido cronologicamente, já que sobre
ele não unanimidade. Por outras palavras, juventude/jovem é um conceito plástico,
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contextual e situacional e acima de tudo relacional, que se define em relação a (ou à
transição entre) outra categoria etária (King, Lulle, Morosanu & Williams, 2016: 9).
Segundo os dados disponíveis na Pordata,
3
2012 registou o número mais elevado de
mobilidade jovem, nas idades compreendidas entre os 15-19 anos, os 20-24 e os 25-29.
De entre estas, a percentagem mais elevada corresponde à dos 25-29, sendo que a partir
de 2012 se verifica uma tendência de diminuição dos números (ver tabela 2).
Tabela 2. Números da mobilidade portuguesa por faixa etária (2008-2015)
Total
15-19
20-24
25-29
30-34
35-39
40-44
45-49
50-54
55-59
60-64
65+
2008
20.357
1.251
4.393
5.377
3.124
1.512
868
237
7
0
0
0
2009
16.899
1.039
3.649
4.465
2.593
1.256
720
196
6
0
0
0
2010
23.760
1.460
5.127
6.276
3.644
1.765
1.013
277
8
0
0
0
2011
43.998
3.277
6.237
6.097
5.075
3.952
3.044
3.032
1.520
611
118
553
2012
51.958
4.378
10.563
11.022
7.184
5.383
3.753
3.505
1.579
990
248
510
2013
53.786
2,775
9.722
8.917
6.303
5.821
5.499
4.898
3.047
1.774
942
1.827
2014
49.572
2.661
8.776
8.122
5.596
5.250
5.159
4.588
3.040
1.723
964
.776
2015
40.377
2.705
7.266
8.146
5.601
4.189
3.652
3.147
1.878
1.048
290
356
Fonte: Pordata (última atualização em 28.10.2016).
No livro Regresso ao futuro: A nova emigração e a sociedade portuguesa (2016), os
investigadores registam duas tendências: os que se deslocam para outros países
europeus (os mais jovens e os menos escolarizados) e os que o fazem para fora da
Europa (os menos jovens e mais qualificados). No mesmo estudo é referido que,
genericamente, Angola, Moçambique, Brasil e Reino Unido são destino dos indivíduos
mais qualificados e que, em 2015, o Reino Unido foi o país para onde emigraram mais
portugueses: 32.3 mil (ver portal do Observatório da Emigração). Já o fluxo para Angola
e Moçambique é mais apelativo para profissionais menos jovens e está muito associado
a transferências de empregados de empresas portuguesas. Neste mesmo livro,
desmente-se que Portugal tenha perdido meio milhão de pessoas para a emigração desde
o início da crise, como por vezes referem os meios de comunicação (veja-se Santos,
2016). De facto, apesar de o INE contabilizar 485 128 saídas entre 2011 e 2014, muitas
destas deslocações são inferiores a um ano (entre 2011 e 2016, este tipo de saída
ascendeu de 56% para 63%). Não obstante este aspeto, bem como o regresso de alguns
dos que haviam saído, a verdade é que os anos da crise financeira e económica assistiram
a uma inédita saída de recém-licenciados. Foi neste contexto e perante estas evidências
que realizámos este estudo.
Estruturámos o artigo em quatro secções. Nesta primeira, que corresponde também à
introdução, apresentamos genericamente o contexto europeu e português nos anos da
crise económica e financeira, no que respeita aos números do desemprego e da
emigração, por ter sido neste período que aplicámos o inquérito por questionário. Ainda
neste primeiro momento do artigo, referimos os principais estudos que analisaram os
3
Dados apurados em funções dos números disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
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efeitos da crise económica nos jovens europeus e definimos os conceitos de mobilidade
e de juventude. No segundo momento, descrevemos os objetivos do estudo, o desenho
da investigação, o instrumento de recolha de dados, o processo e o contexto de aplicação
do inquérito por questionário. Posteriormente, apresentamos e comentamos os
resultados e na secção quatro destacamos as principais conclusões e limitações deste
estudo, bem como propomos possibilidades de investigações futuras.
2. Metodologia
2.1. Os objetivos do estudo
Com este estudo pretendemos analisar as perceções dos alunos da Escola Superior de
Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve (ESGHT-UAlg), sobre o seu
futuro profissional e as suas perspetivas de mobilidade internacional. Circunscrevemo-
nos a esta escola por ser aquela com o mais elevado número de estudantes desta
universidade pública (aproximadamente 2000 alunos). Assim, são objetivos desta
investigação:
analisar as perspetivas profissionais, quer em termos gerais, quer relativamente ao
mercado de trabalho nacional, e identificar em que aspetos estas se diferenciam;
averiguar a relação entre os vários aspetos profissionais considerados e a
predisposição para a mobilidade laboral internacional;
caraterizar a predisposição para a mobilidade internacional, tanto laboral como
académica, de acordo com as caraterísticas demográficas e as competências
linguísticas.
2.2. Desenho da investigação
A investigação realizada teve por base um desenho ex-post-facto, descritivo, utilizando-
se como método de recolha de dados primários um inquérito por sondagem. O
questionário foi elaborado para este estudo e as catorze questões nele incluídas,
resultantes da investigação bibliográfica e da consulta de estudos similares, encontram-
se agrupadas em quatro seções: perspetivas profissionais; mobilidade internacional
(laboral e académica); conhecimentos linguísticos e caraterização demográfica (idade,
género, curso, ano).
Relativamente às perspetivas profissionais, são utilizadas duas escalas tipo-Likert com
as quais pretendemos aferir quer a importância que, em termos gerais, os inquiridos
atribuem a determinados aspetos da vida profissional (1 - nada importante a 5 -
extremamente importante), quer a classificação que lhes atribuem na perspetiva de um
futuro trabalho em Portugal (1 - muito mau a 5 - muito bom). Os aspetos considerados
são: oportunidades de emprego; estabilidade e segurança; condições remuneratórias;
possibilidade de progredir na carreira; boa relação com colegas e superiores; flexibilidade
de horário; trabalho que salvaguarde a saúde e o bem- estar; trabalho com prestígio
social.
Na seção relativa à mobilidade internacional os inquiridos deveriam indicar se já
estudaram ou consideram vir a estudar no estrangeiro (mobilidade académica
internacional), bem como se ponderavam a hipótese de vir a trabalhar no estrangeiro
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(mobilidade laboral internacional). Em caso afirmativo deveriam hierarquizar os três
países preferidos e em caso negativo deveriam indicar a influência que os recentes
ataques terroristas, em cidades europeias, poderiam ter nessa decisão (nenhuma, pouca,
muita). Solicitava-se ainda que identificassem familiares com experiência de emigração
(atual ou passada), que associassem uma palavra ao vocábulo emigração” e que
expressassem o seu vel de concordância com a afirmação “Daqui a dois anos a crise
terá terminado e a situação de emprego em Portugal será melhor do que hoje”, (1 -
discordo completamente a 5 - concordo completamente).
Quanto aos conhecimentos linguísticos, solicitava-se aos inquiridos que indicassem o
número de reprovações a unidades curriculares de nguas e a classificação obtida nas
que concluíram. Deveriam ainda autoavaliar os conhecimentos de inglês, alemão e
espanhol (insuficientes, suficientes, bons ou excelentes) e indicar a realização de algum
exame de certificação de língua inglesa.
2.3. Recolha de dados e caraterização da amostra
Como referimos, a população alvo foram os alunos da ESGHT-UAlg. Esta instituição
localiza-se em Faro, capital de distrito da província do Algarve: a província mais a sul de
Portugal e a região mais turística do país. A Universidade, uma das catorze universidades
públicas portuguesas, nasce em 1979 e reúne duas instituições pré-existentes: a
Universidade do Algarve e o Instituto Politécnico de Faro.
O questionário foi aplicado a uma amostra não probabilística, de conveniência, a 425
estudantes dos três anos das licenciaturas da ESGHT-UAlg (Gestão, Turismo, Marketing
e Gestão Hoteleira) (ver tabela 3). A aplicação decorreu em situação de sala de aula em
dois momentos distintos: em janeiro 2016 e em junho 2016. Os dados recolhidos foram
verificados individualmente e analisados através do programa SPSS vs. 23.
Tabela 3. Distribuição dos alunos inquiridos por licenciatura e por ano da licenciatura
Curso
Total de alunos inquiridos
Alunos / Ano
N.º Alunos
% Alunos
1.º
2.º
3.º
Gestão
143
33.6
33.3%
26.92%
44.71%
Turismo
121
28.5
31.43%
33.08%
14.12%
Marketing
72
16.9
13.81%
21.54%
17.65%
Gestão Hoteleira
89
20.9
21.43%
18.46%
23.53%
3. Apresentação dos resultados
4
3.1. Caraterização dos alunos inquiridos
A idade média dos alunos inquiridos é de 22 anos, não se registando diferenças
significativas entre os vários cursos (tabela 4). Para os primeiros anos, a idade média é,
para todos os cursos, de 21 anos e para os segundos é de 22 anos em Gestão e Turismo
e de 21 em Marketing e Gestão Hoteleira. Não se regista igualmente a existência de
4
Todos os testes apresentados são realizados com um nível de significância de 5%.
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diferenças significativas em ambos os casos (testes de Kruskall-Wallis com p=0.51 e
0.50, respetivamente).
Tabela 4. Idade média por curso
Curso
Idade média
Kruskall-Wallis
X
2
p
Gestão
22
6.13
0.11
Turismo
22
Marketing
21
Gestão Hoteleira
21
Quanto aos terceiros anos, os alunos da licenciatura em Gestão apresentam uma idade
média acima da média global e significativamente superior à dos cursos de Turismo e
Gestão Hoteleira (tabela 5).
Tabela 5. Idade média por 3.º ano do curso
Curso (3.º ano)
(𝑿=24)
Idade média
Kruskall-Wallis
LSD
X2
p
Gestão
25
9.96
0.02
Gestão ≠ Tur; GH
Turismo
22
Marketing
24
Gestão Hoteleira
23
Apesar de fraca (V de Crámer=0.2), uma associação entre o género dos estudantes
e a licenciatura frequentada (Chi-square=17.68; p=0.001), destacando-se o curso de
Gestão por ser o único a apresentar uma maioria de alunos do género masculino. Todas
as restantes licenciaturas são maioritariamente frequentadas por estudantes femininas,
registando-se a percentagem mais elevada no curso de Turismo (ver tabela 6).
Tabela 6. Distribuição dos alunos inquiridos por licenciatura e por género
Curso
Género
%
Gestão
Feminino
45.5%
Masculino
54.5%
Turismo
Feminino
69.2%
Masculino
30.8%
Marketing
Feminino
65.3%
Masculino
34.7%
Gestão Hoteleira
Feminino
52.8%
Masculino
47.2%
3.2. Perspetiva profissional e predisposição para a mobilidade laboral
internacional
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No contexto da sua vida profissional futura, os fatores mais valorizados pelos alunos,
quer em termos globais quer em cada um dos cursos, são as oportunidades de emprego
e a possibilidade de progredir na carreira, seguidas pela estabilidade e segurança e, só
em quarto lugar, pelas condições remuneratórias. Os mesmos aspetos, quando avaliados
na perspetiva da vida profissional em Portugal, apresentam todos valores
significativamente inferiores. Entre eles, os mais bem classificados dizem respeito à boa
relação com colegas /superiores e à salvaguarda da saúde e do bem-estar (tabela 7).
Tabela 7. Valorização de aspetos profissionais
Perspetiva vida profissional futura
Valores médios
Teste t amostras
emparelhadas
Geral
(4.41)
Portugal
(3.24)
t
p
Oportunidades de emprego
4.54
3.19
25.30
0.00
Estabilidade e segurança
4.29
3.30
17.44
0.00
Condições remuneratórias
4.21
2.97
20.49
0.00
Possibilidade de progredir na carreira
4.43
3.13
23.12
0.00
Boa relação com colegas e superiores
4.19
3.70
10.93
0.00
Flexibilidade de horário
3.69
3.17
10.61
0.00
Trabalho que salvaguarde a saúde e o bem-estar
4.17
3.49
13.68
0.00
Trabalho com prestígio social
3.30
2.96
6.99
0.00
Ao passo que nenhum destes aspetos, quando avaliados na perspetiva do futuro
profissional, apresenta associação com a predisposição para a mobilidade laboral
internacional, o mesmo não acontece quando são concretizados relativamente a um
futuro profissional em Portugal. Nesta perspetiva, deteta-se a existência de relações de
dependência entre aquela predisposição e a avaliação dos aspetos “Estabilidade e
segurança”, “Condições remuneratórias e “Trabalho com prestígio social
(respetivamente: X
2
=10.81, p=0.03; X
2
=14.64, p=0.06; X
2
=12.95, p=0.01),
verificando-se que, quanto mais baixa é a classificação que os inquiridos lhes atribuem,
maior é a percentagem dos que dizem ponderar a possibilidade de vir a trabalhar no
estrangeiro.
Apesar de não se registar a existência de associação entre a possibilidade de mobilidade
e o género dos alunos, constata-se que, ao contrário dos resultados encontrados por
Cairns (2017), em que apenas 35% dos estudantes portugueses afirmam querer sair do
país, a maioria (69.6%) dos nossos inquiridos consideram essa possibilidade, facto que
se observa tanto para as raparigas (66.8%), como para os rapazes (73.2%). no estudo
de Cairns (2017: 342), são as estudantes do género feminino quem mais consideram a
mobilidade internacional (57% versus 43%).
Analisando a predisposição para a mobilidade laboral internacional de acordo com as
idades dos estudantes, verifica-se que esta é maior nos alunos mais jovens (tabela 8).
Tabela 8. Mobilidade laboral por idade
Faixas etárias
(X
2
=8.73; p=0.00)
Possibilidade de trabalhar
no estrangeiro
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Sim
Não
< 25 anos
71.7%
28.3%
≥ 25 anos
51%
49%
(% linha)
Mais concretamente, é naqueles que se encontram entre os 20 e os 24 anos que esta
predisposição é mais expressiva, sendo esta a faixa etária que, de acordo com a OCDE
(2013), sofreu o maior agravamento na taxa de desemprego entre 2007 e 2013 (tabela
9).
Tabela 9. Mobilidade laboral por faixas etárias
Faixas etárias
(X
2
=9.80; p=0.02)
Possibilidade de trabalhar
no estrangeiro
Sim
Não
< 20 anos
69.7%
30.3%
20-24 anos
74.8%
25.2%
25-29 anos
51.9%
48.1%
> 29 anos
50%
50%
(% linha)
Apesar de, em todos os cursos, a maioria dos alunos indicar que pondera a possibilidade
de vir a trabalhar no estrangeiro, a aplicação do teste Chi-quadrado indica que estas
variáveis não são independentes. Não obstante a associação entre elas ser fraca (V de
Crámer=0.23), pode concluir-se que os alunos de Gestão indiciam uma menor
predisposição para uma experiência laboral internacional, pois são os que registam uma
maioria menos expressiva (tabela 10). A esta situação poderá não ser alheio o facto de
este ser o curso da ESGHT que, de acordo com dados da Direção-Geral de Estatísticas
da Educação e Ciência (2016), regista o menor nível de desemprego (5.5%).
Tabela 10. Mobilidade laboral por curso
Curso
(X
2
=22.30; p=0.00)
Possibilidade de trabalhar
no estrangeiro
Sim
Não
Gestão
56.7%
43.3%
Turismo
80.2%
19.8%
Marketing
64.8%
35.2%
Gestão Hoteleira
79.5%
20.5%
(% linha)
Quer para estes cursos, quer para a generalidade dos alunos inquiridos, os países
preferenciais são o Reino Unido (32.8%), os EUA (12.3%) e a Alemanha (10.6%), países
não tão fortemente afetados pela crise económica de 2008, similarmente ao constatado
por Cairns (2017: 344). Face a estes países, e de acordo com a tipologia apresentada
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por Hemming, Schlimbach, Tilmann, Nienaber, Roman e Skrobanek (2019: 49), Portugal
classifica-se como um país “beneficiário da mobilidade”, apresentando uma reduzida
capacidade de produção de capital humano
5
mas beneficiando largamente do
desenvolvimento desse capital nos jovens que experienciam mobilidade.
Confrontando os resultados com os referidos por Cairns (2017: 343), verificamos que os
nossos inquiridos, ao ponderarem o país de destino preferencial, aparentam dar uma
menor importância ao facto de nele se falar inglês (54.0%), valor bastante inferior ao
indicado pelo autor acima referido (87%).
Uma das questões do questionário requeria aos alunos que associassem, livremente, um
vocábulo à palavra emigração”. Todas as palavras que os alunos registaram o
positivas: “oportunidade” (22.6%), “trabalho” (8.4%) e “vida melhor” (8.1%), o que
pode ser entendido como sinal de uma postura otimista face à perspetiva de sair de
Portugal.
Dos 128 (30.1%) alunos que não consideram a possibilidade de vir a trabalhar no
estrangeiro, a maioria são do género feminino (62.5%), têm menos de 25 anos (81.3%)
e frequentam, na sua maior parte (47.7%), o curso de Gestão. A preocupação com os
recentes atentados terroristas não é um fator relevante para esta opção pois a
esmagadora maioria (82%) afirma ser este um fator com pouca ou nenhuma influência.
Quando questionados sobre a sua concordância com a afirmação “Daqui a dois anos a
crise terá terminado e a situação de emprego em Portugal será melhor do que hoje”,
verifica-se que apenas 17% dos alunos acreditam que a situação de crise e desemprego
virá a resolver-se num futuro próximo, resultado inferior aos 21.6% obtidos por Lobo,
Ferreira e Rowland (2015), para os residentes em Portugal acima dos 15 anos.
3.3. Predisposição para a mobilidade académica internacional
A área dos Estudos sobre Migrações ocupa-se da análise da circulação transfronteiriça de
jovens que frequentam ou frequentaram, recentemente, o ensino superior. Dentro desta
cabe o campo de investigação em Mobilidade Internacional de Estudantes (MIE), que
analisa as deslocações dos jovens, quer para estudar numa universidade estrangeira
quer para realizar um estágio fora do seu país. De um modo geral esta mobilidade é
realizada ao abrigo de programas de mobilidade europeus como por exemplo o Erasmus
da Comissão Europeia (ver Gonzalez, Mesanza & Mariel, 2011 e Oborune, 2013, por
exemplo). Um outro foco de análise das investigações em MIE são aqueles estudantes
que optam por estudar fora do país por períodos de tempo mais longos dos que
possibilitam os programas das agências europeias. Nestes casos, os estudantes contam
com a ajuda dos pais e/ou da família mais próxima ou viajam financiados por si mesmos
que frequentemente optam por trabalhar antes de estudar no estrangeiro (ver por
exemplo Altbach & Knight, 2007 e Smith, Rérat & Sage, 2014).
De acordo com o relatório da International Organisation for Migration (2018), a
mobilidade académica internacional dos estudantes aumentou globalmente de cerca de
3.9 milhões em 2011 para 4.8 milhões em 2017.
5
Hemming, Schlimbach, Tilmann, Nienaber, Roman e Skrobanek (2019: 46) definem capital humano como
um conjunto de competências que contribuem para a produtividade laboral e no qual os indivíduos podem
investir.
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No caso do presente estudo constata-se que a maioria (60.67%) dos alunos inquiridos
considera a possibilidade de vir a estudar no estrangeiro, o mesmo se verificando em
cada um dos cursos. Apesar da fraca associação (V de Crámer=0.16), o teste Chi-
quadrado indica, todavia, que a predisposição a estudar no estrangeiro não é
independente do curso, verificando-se que os alunos de Gestão são os que se apresentam
menos propensos a encarar uma experiência estudantil internacional (tabela 11); o
mesmo sucedendo com os alunos da faixa etária mais elevada (tabela 12).
Tabela 11. Mobilidade estudantil por curso
Cursos
(X
2
=11.00; p=0.01)
Possibilidade de estudar
no estrangeiro
Sim
Não
Gestão
50.7%
49.3%
Turismo
61.0%
39.0%
Marketing
68.6%
31.4%
Gestão Hoteleira
70.1%
29.9%
(% linha)
Tabela 12. Mobilidade estudantil por idade
Faixas etárias
(X
2
=6.10; p=0.01)
Possibilidade de estudar
no estrangeiro
Sim
Não
< 25 anos
63.1%
36.9%
≥ 25 anos
45,1%
54.9%
(% linha)
Embora com fraca associação (Phi=0,25), observa-se ainda que, dos alunos que
afirmaram considerar a possibilidade de vir a trabalhar no estrangeiro, a maioria (68.5%)
também pondera a possibilidade de estudar além-fronteiras (tabela 13).
Tabela 13. Mobilidade estudantil/profissional
Trabalhar no estrangeiro
(X
2
=24.91; p=0.00)
Estudar
no estrangeiro
Sim
Não
Sim
68.5%
31.5%
Não
42.5%
57.5%
(% linha)
3.4. A mobilidade internacional e as línguas
Relativamente à autoavaliação que os estudantes fazem dos seus conhecimentos em
Línguas, verifica-se que somente no Inglês se regista uma maioria (70.5%) de avaliações
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nos veis bom e excelente, sendo essas percentagens de 44.3% e 3.6% no caso do
Espanhol e do Alemão (tabela 14).
Tabela 14. Autoavaliação de conhecimentos de Inglês, Alemão e Espanhol
Autoavaliação
conhecimentos
Inglês
Alemão
Espanhol
Insuficientes
5%
78.2%
13.8%
Suficientes
24.5%
18.2%
41.9%
Bons
48.0%
3.6%
34.8%
Excelentes
22.5%
0.0%
9.5%
(% coluna)
Analisando por curso as autoavaliações efetuadas em cada uma das línguas, observa-se,
para o inglês e o alemão, a existência de uma associação, embora fraca, entre estas duas
variáveis (coeficiente de contingência, respetivamente, de 0.23 e 0.37). No caso do
inglês, a maior parte das avaliações posiciona-se no bom, registando-se uma maior
percentagem de bons e excelentes nos cursos de Gestão Hoteleira e Turismo (tabela 15).
Tabela 15. Autoavaliação conhecimentos linguísticos de Inglês por Curso
Curso
(X
2
=23.62; p=0.00)
Autoavaliação conhecimentos Inglês
Insuficientes
Suficientes
Bons
Excelentes
Gestão
6.3%
33.8%
47.2%
12.7%
Turismo
6.7%
17.6%
46.2%
29.4%
Marketing
2.8%
25.0%
43.1%
29.2%
Gestão Hoteleira
2.3%
18.2%
55.7%
23.9%
(% linha)
O alemão não regista qualquer avaliação como excelente, classificando-se a maioria no
insuficiente. Mais uma vez, é nos cursos acima referidos que se encontram os melhores
resultados (tabela 16).
Tabela 16. Autoavaliação a Alemão por Curso
Curso
(X
2
=66.39; p=0.00)
Auto-avaliação conhecimentos Alemão
Insuficientes
Suficientes
Bons
Gestão
92.1%
5.7%
2.1%
Turismo
59.7%
31.9%
8.4%
Marketing
95.8%
2.8%
1.4%
Gestão Hoteleira
67.0%
31.8%
1.1%
(% linha)
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Quanto às reprovações às disciplinas de Línguas, verifica-se que a grande maioria
(79.4%) dos alunos inquiridos, quer em termos globais (tabela 17), quer em cada um
dos cursos (tabela 18), nunca reprovou.
Tabela 17. Reprovações a unidades curriculares de Línguas
Unidades curriculares de Línguas
Nunca reprovou
79.4%
Reprovou 1 vez
10.6%
Reprovou 2 vezes
5%
Reprovou mais de 2 vezes
5%
(% coluna)
Apesar de ser fraca a associação entre o curso e o número de reprovações (Coef.
Contingência=0.29), a aplicação do teste Chi-quadrado indica que as variáveis não são
independentes o que nos leva a concluir, com base na tabela de contingência abaixo
(tabela 18), que é nos cursos de Turismo e Gestão Hoteleira que se regista uma maior
frequência de duas ou mais reprovações.
Tabela 18. Reprovações a Línguas por Curso
Curso
(X
2
=17.73;
p=0.04)
Situação relativamente às disciplinas de Línguas
Nunca
reprovou
Reprovou 1
vez
Reprovou 2
vezes
Reprovou
mais de 2
vezes
Gestão
89.9%
7.2%
1.4%
1.4%
Turismo
74.5%
12.7%
7.3%
5.5%
Marketing
87.5%
9.4%
0.0%
3.1%
Gestão Hoteleira
62.8%
14.0%
11.6%
11.6%
(% linha)
A esmagadora maioria (91%) dos alunos declara nunca ter realizado nenhum exame de
certificação de língua inglesa. Apesar da existência desta certificação ser independente
do curso frequentado (X
2
=4.29; p=0.23), observa-se que é entre os alunos de Gestão
Hoteleira que se regista maior percentagem de certificações (tabela 19).
Tabela 19. Certificações de Língua inglesa
(% linha)
Cursos
Certificação língua inglesa
Não
Sim
Gestão
92.1%
7.9%
Turismo
92.4%
7.6%
Marketing
93.1%
6.9%
Gestão Hoteleira
85.4%
14.6%
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Analisando a relação entre a predisposição para a mobilidade laboral internacional e as
línguas, foi detetada a existência de associação, embora fraca (Phi=0.18), unicamente
para a autoavaliação à língua inglesa, observando-se uma maior predisposição para esta
experiência entre os alunos que melhor avaliam os seus conhecimentos nesta língua
(tabela 20).
Tabela 20. Mobilidade laboral / Auto-avaliação Inglês
Auto-avaliação a inglês
(X
2
=24.44; p=0.00)
Possibilidade de trabalhar
no estrangeiro
Sim
Não
Insuficiente-Suficiente
52.4
47.6
Bom-Excelente
76.8
23.2
(% linha)
Quanto à mobilidade estudantil internacional, não foi detetada a existência de associação
entre a predisposição para estudar no estrangeiro e a confiança dos alunos nas suas
competências linguísticas, para nenhuma das línguas consideradas (Inglês: X
2
=4.13;
p=0.25; Alemão: X
2
=0.09; p=0.96; Espanhol: X
2
=1.34; p=0.72).
4. Conclusões
Os aspetos do trabalho mais valorizados pelos estudantes inquiridos, tanto em termos
globais como em cada um dos cursos, são as “oportunidades de emprego” e a
“possibilidade de progredir na carreira”, seguidas pela ”estabilidade e segurança” e,
em quarto lugar, pelas “condições remuneratórias”.
Os mesmos aspetos, quando avaliados na perspetiva de um futuro profissional em
Portugal, apresentam todos valores significativamente inferiores. Entre eles, os mais bem
classificados dizem respeito à “boa relação com colegas /superiores” e à “salvaguarda da
saúde e do bem-estar” não se encontrando estes, no entanto, entre os aspetos de maior
importância para os nossos inquiridos.
Apesar de, relativamente ao mercado de trabalho nacional, todos os aspetos serem pior
classificados, apenas a baixa expetativa relativa aos fatores “estabilidade e segurança”,
“condições remuneratórias” e “trabalho com prestígio social”, tem influência na
predisposição para a mobilidade laboral internacional.
Ao contrário dos resultados encontrados por Cairns (2017), a maioria (69.6%) dos
estudantes inquiridos afirma considerar a possibilidade de vir a trabalhar no estrangeiro,
facto que se observa tanto para as raparigas (66.8%), como para os rapazes (73.2%) e
sendo esta predisposição superior naqueles que se encontram entre os 20 e os 24 anos,
precisamente a faixa etária que, de acordo com a OCDE (2013), sofreu o maior
agravamento na taxa de desemprego entre 2007 e 2013. Dos destinos citados como
preferenciais, a maioria (54%) é de língua inglesa, surgindo em primeiro lugar o Reino
Unido. A esta preferência poderá não ser alheio o facto de esta ser a única língua em que
se regista uma maioria (70.5%), de avaliações nos níveis bom e excelente.
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Considerando o facto de que os principais vocábulos, associados à palavra emigração,
têm uma conotação positiva (“oportunidade”, “trabalho”, “vida melhor”), e tendo em
conta que as palavras que escolhemos são esclarecedoras da visão que detemos sobre
dada realidade, é possível concluir que, para os estudantes inquiridos, a perspetiva da
mobilidade é fundamentalmente positiva e promissora de quase tudo aquilo que um
jovem deseja quando termina uma licenciatura: uma oportunidade para arranjar um
trabalho que lhe proporcione uma vida melhor.
O mesmo otimismo não se manifesta quando questionados relativamente à evolução do
emprego em Portugal, sendo apenas 17% dos inquiridos a perspetivar uma evolução
positiva para os próximos dois anos, resultado inferior aos 21.6% obtidos por Lobo,
Ferreira e Rowland (2015), para os residentes em Portugal acima dos 15 anos.
Para os alunos que não consideram a possibilidade de vir a trabalhar no estrangeiro
(30.1%), a preocupação com os recentes atentados terroristas não é um fator relevante,
pois a esmagadora maioria (82%) afirmou ser este um fator com pouca ou nenhuma
influência nessa decisão.
Tal como se verifica relativamente à mobilidade laboral, a maioria (60.67%) dos alunos
inquiridos considera a possibilidade de vir a estudar no estrangeiro, sendo igualmente
nos alunos mais velhos (25 ou mais anos) e no curso de Gestão que se verifica uma
menor apetência por este tipo de experiência estudantil. Apesar de fraca, regista-se uma
associação entre estes dois tipos de mobilidade sendo que, dos alunos que ponderam
uma experiência profissional internacional, a maioria (68.5%) considera igualmente a
possibilidade de estudar no estrangeiro. Ao passo que a predisposição para uma
experiência académica internacional não apresenta qualquer relação com os
conhecimentos linguísticos dos alunos, no caso da mobilidade laboral verifica-se que esta
predisposição é maior entre os alunos que expressam uma maior confiança no seu
domínio da língua inglesa.
Apesar de a maioria dos nossos inquiridos demonstrar predisposição para a mobilidade
internacional laboral e académica, de acordo com Kmiotek-Meier, Carignani e Vysotskaya
(2019: 32), muitos jovens europeus estão ainda relutantes em realizar este tipo de
experiência quer seja para fins académicos ou profissionais. Na verdade, apesar de, no
contexto europeu, a mobilidade poder ser entendida como um instrumento para
ultrapassar desigualdades e para garantir os objetivos de coesão social e territorial da
União Europeia (Hemming, Schlimbach, Tilmann, Nienaber, Roman & Skrobanek, 2019:
45), autores que alertam para o facto de, pelo contrário, a mobilidade contribuir
potencialmente para a manutenção das desigualdades, pois o indivíduo que se desloca
encontra-se muitas vezes numa posição de desvantagem devido, por exemplo, à
desvalorização das suas competências académicas (Bilecen & Van Mol, 2017: 1246).
Apesar da natureza essencialmente exploratória e descritiva do presente estudo,
consideramos que este pode contribuir para um melhor conhecimento das expetativas
profissionais dos estudantes universitários e das suas perspetivas de mobilidade
internacional.
Dada a natureza não probabilística da amostra utilizada, o estudo apresenta limitações
no que se refere à leitura dos resultados, que não devem ser extrapolados fora do
contexto em análise. A ampliação do estudo a outras unidades de ensino, e com recurso
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à amostragem aleatória, permitiria uma leitura generalizável a todos os jovens
universitários portugueses. A segunda limitação a destacar diz respeito à utilização de
dados de corte transversal, o que inviabiliza analisar a evolução das variáveis
consideradas. Dada a sua natureza dinâmica, e as alterações entretanto ocorridas no
quadro socioeconómico nacional, teria especial interesse aprofundar a investigação numa
perspetiva longitudinal.
No entanto, esta investigação permite oferecer dados que poderão servir como ponto de
partida para a realização de estudos nos quais se avalie a relação entre a decisão de
mobilidade profissional, e/ou académica, internacional e o conhecimento/domínio de
línguas estrangeiras.
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