Tal como referimos, esta nossa investigação realizou-se em 2016, o ano em que a maior
crise financeira, desde a grande depressão de 1929, ia no seu oitavo ano. Vivia-se um
quadro de crise económica e de efeito das consequências da aplicação de medidas de
austeridade impostas pela tríade do Fundo Monetário Internacional, Banco Central
Europeu e Comissão Europeia, e todos estes fatores causaram implicações sérias nas
vidas e na perspetiva de vida de muitos jovens licenciados portugueses: desânimo,
precaridade laboral e desemprego (Cairns, 2015: 10; Cairns, 2017: 340).
São diversos os estudos que, no início do século XXI, registam o impacto da crise
económica na vida dos jovens europeus (ver Cairns, 2017; Papadopoulos, 2014; Dietrich,
2013; Aassve, Cottini & Vitali, 2013; Bell & Blanchflower, 2011; Scarpetta, Sonnet and
Manfredi, 2010). De facto, se durante os anos da crise económica, na Europa a taxa
global de desemprego aumentou 3.3% entre 2007 e 2013, a percentagem de
desemprego jovem sofreu ainda maiores agravamentos, atingindo o valor de 7.3 % na
faixa etária 20-24 e 5.1 % na faixa 25-29 (ver OCDE, 2013). Ou seja, no Velho
Continente a percentagem de jovens (20-24 anos) desempregados alcançou níveis
superiores ao dobro da percentagem global de desemprego. Esta tendência registou-se
em diversos países europeus (como, por exemplo, na República da Irlanda, na Grécia,
no Chipre, na Espanha). A exceção assinalou-se apenas na Alemanha onde a taxa de
desemprego jovem (20-24 anos) desceu 3.3% entre 2007 e 2012 (i.e. de 9.8% para
6.5%) (ver OCDE, 2013). Não obstante o impacto diferenciado da crise, os estudos
previamente indicados revelam que na grande maioria dos países a mobilidade laboral
internacional após o término das licenciaturas é uma das opções mais frequentes, mesmo
que transitória.
Por mobilidade entendemos o movimento geográfico entre fronteiras, para países que
não o de origem, com uma estada mínima de duas semanas (Kmiotek-Meier, Carignani
& Vysotskaya, 2019: 32). Neste ponto, é também fundamental que reflitamos sobre a
distinção entre mobilidade e emigração, para concluir que, na senda de King, Lulle,
Morosanu e Williams (2016: 8), se verificou nos últimos anos uma alteração da
terminologia, no sentido de se preferir o primeiro termo ao segundo. Esta mudança deve-
se ao facto de mobilidade ser um termo politicamente mais neutro ao passo que
emigração tem um extenso passado sendo, em muitos países, perspetivada como uma
ameaça (King & Lulle, 2016: 30-31), implicando uma deslocação para um país onde se
permanece por períodos de tempo mais longos, por vezes até definitivamente, enquanto
que a mobilidade se caracteriza por ser um movimento mais transitório. Engbersen e
Snel (2013) sugerem o termo “mobilidade líquida” para se referirem a este tipo de
deslocações intrafronteiras, na Europa dos 28, que atualmente assume diversas formas
(viagens de trabalho, estágios académicos/profissionais, programas de estudos,
intercâmbios de vária ordem, entre outras). King, Lulle, Morosanu & Williams (2016: 9)
observam uma tendência, na Europa, para a utilização do termo mobilidade quando se
descrevem movimentos entre países europeus, pois este espelha melhor o lema da
“liberdade de circulação”, utilizando-se o termo emigração para indicar deslocações para
fora do espaço europeu.
Ainda neste ponto do trabalho cabe clarificar o conceito de juventude que, como as outras
categorias relativas à idade (infância, meia-idade ou velhice), é mais uma categoria social
e culturalmente construída e menos um conceito definido cronologicamente, já que sobre
ele não há unanimidade. Por outras palavras, juventude/jovem é um conceito plástico,