representa um traço central nas suas estruturas produtivas (Gudynas, 2012). Gudynas
(2009) recorre ao neoextrativismo progressivo para descrever o fenómeno do século XXI
na América do Sul, onde se combinam diferentes premissas: a) o desenvolvimento é
concebido a partir de setores extrativos; b) há maior presença e atuação ativa do Estado,
que procura a legitimação através da redistribuição do excedente obtido; c) inserção
internacional dependente de matérias-primas e subordinada aos centros de poder; d)
aumento da fragmentação territorial, impactos socioambientais, entre outros.
Na América do Sul, esse fenómeno manifesta-se nas atividades extrativas, como o
desenvolvimento e aprofundamento da mineração a céu aberto já existente e na
prospeção e exploração de petróleo. Também houve uma mudança na prática da
agricultura, e as monoculturas de exportação, como a soja, foram encorajadas (Gudynas,
2009). Slipak (2012) acrescenta que os preços das commodities geram um alto custo de
oportunidade se os fatores de produção não forem destinados a essas atividades,
facilitando a continuidade desse modelo. Além disso, até meados de 2014, houve uma
valorização da moeda nacional, o que aumentou o incentivo à importação de bens médios
e finais, e à exportação de produtos primários e MOA (Durán Lima e Pellandra, 2017).
Maristella Svampa (2019), que cunhou o conceito de consenso de commodities para
explicar as exportações em larga escala de produtos primários, o crescimento económico
e o aumento do consumo devido ao neoextrativismo, afirma que as oportunidades
económicas que o aumento dos preços e da procura das commodities geraram conduziu
a outro conceito: ilusão desenvolvimentista. Segundo Svampa, os governos regionais -
progressistas ou conservadores - pensaram que seria possível, graças a essas novas
aberturas económicas, encurtar a distância com os países industrializados para alcançar
o desenvolvimento.
Na verdade, as fortes receitas que os Estados sul-americanos têm recebido como
resultado deste tipo de exportações desencorajam o desenvolvimento da indústria
nacional e sustentam a continuidade de uma troca desfavorável à região sul-americana
(Slipak, 2012; Nacht, 2013). Observa-se a ausência de uma política industrial na maioria
dos países da região e, naqueles onde existe, apresenta características defensivas, o que
não possibilita a adaptação a novos modelos tecnológicos (CEPAL, 2016).
Nesse sentido, esse tipo de economia assente em commodities, sem uma política de
inovação, tem revelado o problema da falta de diversificação da matriz produtiva. A
Quarta Revolução Industrial é caracterizada pelo desenvolvimento e implantação da
inteligência artificial, internet das coisas, fabrico de aditivos, biotecnologia, big data, e
block chain, entre outros, e os países latino-americanos atrasaram-se nessas áreas.
Numa economia global movida pelo conhecimento, a região da América Latina atribui
escassos recursos à investigação e desenvolvimento, e os atribuídos representam apenas
0,6% do PIB regional (RICYT, 2019) e, como consequência, possui um número limitado
de investigadores na área STEM, falta de incentivos à investigação e fraca produção de
patentes e licenças (representando apenas 2% do total mundial) (OMPI, 2020).
Assim, a dependência desse tipo de especialização produtiva, assente em produtos
intensivos em trabalho e em recursos naturais, aumenta a vulnerabilidade do Estado face
às mudanças externas - muitas vezes vinculadas a fatores climáticos, sociais e políticos
- (Nacht, 2013) e, ao mesmo tempo, diminui a sua margem de autonomia económica,
comercial e política. Para completar o cenário, esse modelo de inserção fortalece a